O nascimento milagroso de Isaque é descrito na Parashá
desta semana. Sara que está muito além dos seus anos de vida fértil, dá à luz
uma criança saudável, que continuará o legado de seus pais.
Em comemoração deste importante
evento, lemos na Torá, que Abraão
"fez uma grande festa" (Bereshit
21: 8)
Os comentaristas têm diferentes opiniões sobre quando
exactamente ocorreu esta festa. Alguns entendem esta festa como fazendo parte da
celebração da Mitzvá de Brit Mila (circuncisão) e vêem isto como precursor da
maneira como tal evento é celebrado tradicionalmente.
No entanto, a leitura do verso, parece indicar algo
inteiramente diferente. O versículo descreve muito claramente, como esta festa
aconteceu "no dia em que Isaque foi desmamado".
Por que é que
Abraão escolheu este momento em particular para
comemorar publicamente?
Explica Dom Abarbanel, que esta celebração estava
directamente ligada a outro milagre especial, um milagre que D-us não tinha sequer
mencionado a Abraão.
O fato de que Sara em sua idade avançada tinha dado à luz,
era sem dúvida milagroso, mas havia um outro milagre especial. Não só Sara deu
à luz Isaque, como foi capaz de o amamentar e dele cuidar, com a saúde e a
força necessária para cuidar de um bebé tão jovem.
O nascimento de Isaque fora realmente milagroso e muito
público. No entanto, houve um outro milagre pelo qual Abraão e Sara ficaram
muito gratos: o de terem a força e a capacidade de criar este seu filho.
Receber este presente
inesperado e especial foi a razão para esta celebração, e constitui uma lição
importante para todos nós.
Que todos nós
aprendamos com Abraão e Sara a reconhecer e a ser gratos por tudo o que D-us
nos dá.
Shabbat Shalom!
Cortesia
do Rabino
Eli
Rosenfeld
chabadportugal.com
1ª Pintura - http://themaskery.com/art/paintings/
2ª Pintura
- When Abraham was 100 years old, Sarah gave birth to a son. (1984 illustration
by Jim Padgett, courtesy of Distant Shores Media/Sweet Publishing)
Leonard Cohen no Festival Internacional de Benicàsim (Valência, Espanha), 20 de Julho de 2008. Fotografia de Diego Tuson/AFP.
Humilde, de uma generosidade de espírito imensa, Leonard Cohen deixou-nos. E a sua partida deixou-nos uma grande saudade. Felizmente, uma saudade que podemos enganar ouvindo a sua música, a sua poesia. Melhor, graças à tecnologia podemos ouvir a sua voz quente, muito grave, quase mística.
Muito foi dito sobre este grande artista. Portanto, não vou alongar-me. Quero apenas prestar-lhe a minha homenagem, o meu profundo agradecimento por ter sido uma inspiração na minha vida.
Num artigo publicado neste blogue, no ano de 2013, por altura das Grandes Festas (Yamim Noraim), apresentei a versão de Leonard Cohen do poema litúrgico Unetaneh Tokef – Who by Fire. Em Who by Fire, composto em 1973 em resposta à Guerra do Yom Kippur, Cohen debate-se com a nossa mortalidade e com o conceito de Deus, a quem dirige, num misto de devoção e de fúria, estas palavras: «And who, shall I say is calling?».
No tema The Captain, de 1984, Cohen atreve-se a tocar num assunto tabu, quando diz: «Complain, complain, that’s all you’ve done ever since we lost. If it’s not the Crucifixion, then it’s the Holocaust. »
“The Captain”
Now the Captain called me to his bed
He fumbled for my hand
"Take these silver bars," he said
"I'm giving you command."
"Command of what, there's no one here
There's only you and me --
All the rest are dead or in retreat
Or with the enemy."
"Complain, complain, that's all you've done
Ever since we lost
If it's not the Crucifixion
Then it's the Holocaust."
"May Christ have mercy on your soul
For making such a joke
Amid these hearts that burn like coal
And the flesh that rose like smoke."
"I know that you have suffered, lad,
But suffer this awhile:
Whatever makes a soldier sad
Will make a killer smile."
"I'm leaving, Captain, I must go
There's blood upon your hand
But tell me, Captain, if you know
Of a decent place to stand."
"There is no decent place to stand
In a massacre;
But if a woman take your hand
Go and stand with her."
"I left a wife in Tennessee
And a baby in Saigon --
I risked my life, but not to hear
Some country-western song."
"Ah but if you cannot raise your love
To a very high degree,
Then you're just the man I've been thinking of --
So come and stand with me."
"Your standing days are done," I cried,
"You'll rally me no more.
I don't even know what side
We fought on, or what for."
"I'm on the side that's always lost
Against the side of Heaven
I'm on the side of Snake-eyes tossed
Against the side of Seven.
And I've read the Bill of Human Rights
And some of it was true
But there wasn't any burden left
So I'm laying it on you."
Now the Captain he was dying
But the Captain wasn't hurt
The silver bars were in my hand
I pinned them to my shirt.
Em Outubro de 2016, Leonard Cohen editou o seu último álbum. Intitulado You Want It Darker, afinal uma despedida, é uma longa reflexão sobre a sua própria mortalidade. O álbum, visto como um retorno de Cohen às suas raízes judaicas, apresenta o Cantor Gideon Zelermyer e o Coro da Sinagoga Shaar Hashomayim, da sua cidade natal, Montreal.
O tema You Want It Darker, que dá o nome ao álbum, inclui passagens da liturgia hebraica, como por exemplo versos do Kaddish - «Magnified and sanctified be Thy holy name»; Cohen, cita também, em hebraico e em inglês, passagens do Livro de Génesis, da história do Sacrifício de Isaac (Gen. 22:1 - E foi depois destas palavras que Deus experimentou a Abraão. E disse-lhe: «Abraão!» E disse: Eis-me aqui.) – «Hineni,
Na Parashá desta semana lemos
sobre o futuro do Povo Judeu,
os descendentes de Abraão e Sara.
D-us diz a
Abraão que os seus filhos serão como a "poeira da terra". (Bereshit
13:16). Tal como é impossível contar as partículas de poeira que existem na
terra, também não se pode contar o Povo Judeu.
O líder português,
Rabino Menashe ben Israel, resume as três diferentes terminologias com que D-us
descreve a singularidade do Povo Judeu.
As três descrições são
"poeira", "areia do mar", e "estrelas do céu".
Esses diferentes termos, diz o Rabino Menashe, descrevem diferentes elementos e
períodos da história judaica.
A analogia da "areia do mar", alude à simples
impraticabilidade de medir a quantidade do Povo Judeu. Este termo diz-nos pouco
sobre sua natureza ou comportamento, mas apenas sobre a sua existência.
O termo "estrelas do céu" tem um significado
completamente diferente. A descrição de luz e brilho, iluminando o ambiente,
refere-se a momentos de grandeza espiritual. Os tempos em que o Povo Judeu
alcança seu potencial máximo.
Ainda assim é a descrição
"poeira da terra", que tem a mensagem mais profunda.
Por um lado, isso parece ser o oposto completo da analogia
das estrelas. Em vez de incandescer e guiar de cima, a poeira é pisada e
desprezada. No entanto, mesmo nessas situações, a poeira nunca se instala
completamente, ela sempre é soprada e levantada novamente pelo vento.
Mesmo em momentos e tempos
difíceis, o espírito e a fé judaica sempre se elevam acima de todas as circunstâncias.
A Casa da Memória Judaica em Castelo Branco vai ser inaugurada dia 11 de Novembro de 2016 pelo
ministro da Cultura. O novo espaço permite uma forte interacção com os
visitantes.
"A Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo
Branco pretende contar a história de uma comunidade que em muito contribuiu
para o desenvolvimento da cidade no período quinhentista”.
Este pequeno artigo mais não é do que um modesto apontamento sobre uma das cantigas mais bonitas do riquíssimo Cancioneiro Sefardita - La Rosa Enflorece (A Rosa Floresce), também conhecida como Los Bilbilicos Cantan (Os Rouxinóis Cantam).
Esta cantiga de origem medieval, em estilo andaluz e composta a partir de um tetracorde denominado Al-Hijaz (nome de uma região da Península Arábica), canta a rosa, uma flor que simboliza a paixão, a nostalgia de um amor longínquo, e diz assim:
La rosa enfloresce en el mez de Mayo/mi alma s’escurece, sufriendo de amor.
Los bilbilicos cantan, sospiran de amor.
Y la pasion me mata, muchigua mi dolor.
Mas presto ven palomba, mas presto ven a mi/mas presto tu mi alma, que yo me vo morir.
La rosa enfloresce en el mez de Mayo/mi alma s’escurece, sufriendo de amor.
Vamos ouvi-la numa interpretação lindíssima, pela cantora Samantha Balzani.
Sephardic Romance - La Rosa Enflorece
O SÍMBOLO DA ROSA NA IDADE MÉDIA
Cântico dos Cânticos, um menestrel toca para
Salomão, Rothschild Mahzor, séc. XV
Na riquíssima simbologia medieval, a Rosa tem um papel de primeiro plano. Os seus significados podem ser esotéricos ou populares, religiosos ou literários e interpretados consoante a forma, a cor, o perfume, o número de pétalas ou a presença de espinhos. Na tradição hebraica, a Rosa exprime a espiritualidade de Israel, lugar da presença Divina no mundo, como a Rosa de Sharon no “Cântico dos Cânticos”:
2 1Eu sou a rosa de Sharon, o lírio dos vales!2 (D’us) Como o lírio entre os espinhos, assim é a Minha amiga entre as filhas! (Israel)
Rosácea da Catedral de Chartres, séc. XIII
A Cristandade vê na forma circular da Rosa e na disposição das suas pétalas, a representação de uma ideia de perfeição e de infinito. Numa das Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio (séc. XIII), a Virgem Maria é invocada como “Rosa das Rosas”.
Rosas das rosas e Fror das frores,
Dona das donas, Sennor das sennores.
Rosas das rosas e Fror das frores,
Dona das donas, Sennor das sennores.
A iconografia mostra-nos uma flor amada, representada na pureza celestial e humana perfeição da Virgem Maria, no amor cortês, ou como recurso da higiene e da medicina (com as suas pétalas purificava-se o ar e desinfectava-se o vestuário).
O Amor, Códice Manesse,
meados de séc. XIV
Bel accueil, Le Roman de la
Rose, Bruges, c. 1490
A Rosa, Tacuinum Sanitatis,
Viena, séc. XIV
Maomé visita o Paraíso, Miraj Nama,
Pérsia, séc. XV
O Islão também contribuiu para a elevação mística da Rosa; para os muçulmanos o Jardim das Rosas simbolizava o jardim da contemplação…”Rosa prenhe do seu perfume, o segredo de tudo”. Por volta do ano mil, um poeta persa recitava: “Se tiveres duas moedas, com uma compra pão, com a outra compra uma rosa para o teu espírito”.
Abençoando as velas de Shabat,
Minhagim, Amsterdam, 1707
Mais recentemente, La Flor Enflorece emprestou a sua melodia a uma oração – Tzur Mishelo. Tzur Mishelo é uma oração habitualmente cantada em Shabat, como introdução à oração de graças recitada após as refeições (Birkat HaMazzon), na maioria das comunidades judaicas. Pensa-se que esta oração (Piyut) foi escrita no Norte de França, na segunda metade do século XIV. É com ela que terminamos este artigo, que esperamos seja do vosso agrado.