domingo, 20 de janeiro de 2013

Música no Holocausto - Parte II




BRUNDIBÁR EM TEREZÍN




Fotografia de propaganda nazi do elenco original de Brundibár, em Terezín


     A ópera infantil Brundibár foi escrita em 1938, com música do compositor checo Hans Krása (que seria deportado para Terezín em 1942) e libreto de Adolf Hoffmeister. Foi estreada num orfanato judeu na cidade de Praga, já no período da ocupação nazi.

     Brundibár foi interpretada pela primeira vez no campo de concentração de Terezín, a 23 de Setembro de 1943. A ópera é uma alegoria à tirania de Hitler e à sua queda eminente, tendo subido ao palco 55 vezes, sob o olhar atento dos opressores nazis. 




Os heróis de Brundibár, ilustração de Maurice Sendak


     Brundibár, conta a história de dois irmãos que precisam de dinheiro para comprar leite para a mãe doente. A sua demanda é atormentada por um tocador de realejo malvado, chamado Brundibár, que tudo faz para os atrapalhar. Mas, com a ajuda de três animais inteligentes (um pássaro, um cão e um gato), as crianças conseguem derrotar o fanfarrão e regressar a casa em triunfo.

    A história do bem a vencer o mal proporcionava conforto aos pequenos artistas, bem como aos companheiros de infortúnio que assistiam aos espectáculos. Brundibár era uma centelha de luz e de esperança que desafiava a longa noite nazi. 


Cartaz da ópera Brundibár, em Terezín


     Em Junho de 1944 os alemães autorizaram a um grupo de representantes da Cruz Vermelha Dinamarquesa e da Cruz Vermelha Internacional, uma visita a Terezín. Para o efeito foi montada toda uma operação destinada a uma campanha para convencer a Cruz Vermelha sobre a qualidade das condições de vida no campo. Uma das primeiras medidas foi aliviar o gueto do excesso de população, deportando milhares de pessoas para Auschwitz.

     Brundibár fez parte da campanha orquestrada pelos nazis. Duas semanas depois da visita da Cruz Vermelha, Hans Krása e a maior parte das crianças do elenco foram enviados para as câmaras de gás de Auschwitz.


     Das cerca de 15000 crianças deportadas para Terezín, sobreviveram pouco mais de 100. O vídeo que se segue é um excerto do filme de propaganda nazi “Hitler dal Židům město” (“Hitler deu uma cidade aos Judeus”); pertence ao Museu Judaico de Praga e foi exibido nas cerimónias do Dia do Holocausto, em 27 de Janeiro de 2010.




Brundibár



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     Nos últimos anos, a ópera tem conhecido uma popularidade cada vez maior e tem sido representada em Inglaterra, Itália, República Checa, Israel e Estados Unidos da América. Em 1995, em Áustria e na Alemanha, Brundibár fez parte de um projecto escolar em homenagem aos sobreviventes de Terezín.


ALICE HERZ- SOMMER

A SOBREVIVENTE MAIS ANTIGA DO HOLOCAUSTO


Alice Hertz-Sommer, aos 108 anos, na sua casa em Londres


     Alice Herz-Sommer nasceu em Praga, em 1903, numa família de ascendência judaica de elevado nível cultural. A mãe era de uma família de músicos da Morávia, e amiga de infância de Gustav Mahler. Alice lembra-se de assistir à estreia da 2ª Sinfonia de Mahler em Praga, tinha então oito anos de idade. 



Alice Herz-Sommer com Franz Kafka


    Franz Kafka fazia parte de um círculo de escritores que se reunia semanalmente em casa da família Herz. Alice recorda-o como uma figura carismática, mas pessimista.


   


Alice começou a ter lições de piano aos cinco anos de idade. Por volta dos dez anos já participava em concertos, interpretando Bach, Beethoven, Schumann e Smetana. 



     


Em 1939, quando os alemães ocuparam a Boémia e a Morávia, Alice Herz-Sommer já tinha uma carreira consagrada como pianista na Europa Central. Nesse mesmo ano, uma parte da sua família conseguiu fugir para a Palestina. Alice, no entanto, ficou em Praga a cuidar da mãe doente, que foi a primeira a ser deportada para Terezín. Em Julho de 1943, Alice, o marido e o filho – Raphael -, de seis anos de idade, foram igualmente deportados para aquele campo. 



      Em Terezín, apesar das condições de vida duríssimas, Alice Herz-Sommer deu mais de 100 concertos, juntamente com outros colegas músicos. 

     Para os alemães, em geral apreciadores de música, assistir aos concertos era puro entretenimento. Aliás, essa era uma razão para manterem vivos certos prisioneiros (músicos dotados), como Alice Herz-Sommer. Mas a maioria da audiência nos concertos de Terezín era composta por pessoas idosas, tristes e debilitadas, que encontravam na música um suporte moral e espiritual, que lhes dava uma certa sensação de liberdade. Mesmo que por instantes, podiam esquecer-se do horror que as rodeava. 




O pequeno Raphael veio a ser o membro mais jovem do elenco de Brundibár, onde desempenhou por várias vezes o papel de “pássaro”. O marido, Leopold Sommer, foi deportado em 1944 para Auschwitz e depois para Dachau, onde morreu. 

Foto: Alice Herz-Sommer com o filho, Raphael




    Em Maio de 1945, o Exército Vermelho libertou o campo e Alice e o filho regressaram a Praga. Mas a situação era dolorosa: parte da sua família, a família do marido, bem como muitos amigos, tinham desaparecido. Em 1949 decidiu emigrar para Israel, onde se reuniu à família. Lá viveu e trabalhou como professora de música. Alice Herz-Sommer recorda os anos que viveu em Israel como um dos períodos mais felizes da sua vida. Em Israel, apesar da tensão política, vivia-se em democracia, uma experiência de grande significado para quem conheceu as ditaduras de Hitler e Stalin. 


Raphael Sommer (1937-2001)


     Em 1986, a pedido do filho (violoncelista e maestro de renome), muda-se para Londres. Raphael morre subitamente aos sessenta e cinco anos, deixando mulher e dois filhos. Alice sofre um dos golpes mais duros da sua vida. Mas, Alice Herz-Sommer vive cada dia da sua vida com um enorme sentimento de gratidão, porque sente a vida como uma dádiva. O seu optimismo inesgotável ajudou-a a vencer mais este desgosto.



 Alice Herz-Sommer no seu 108º aniversário


   Alice Herz-Sommer vive num pequeno apartamento em Londres. Continua a praticar piano diariamente e frequentou até há pouco tempo a Universidade para a Terceira Idade, três vezes por semana, onde estudou História, Filosofia e História do Judaísmo. 




A Garden of Eden in Hell
The Life of Alice Herz-Sommer

    Em 2008 foi publicada a sua biografia com o título A Garden of Eden in Hell. Nela é realçada a luta incansável de uma mãe que tudo faz para criar um ambiente de felicidade para o seu filho, no meio da atrocidade e da barbárie. Com base em A Garden of Eden in Hell, Anthony Robbins fez em 2011 uma entrevista a Alice Hertz-Sommer, a sobrevivente mais antiga do Holocausto. É com ela que terminamos este artigo. 



Nota:

Hitler “criou” em Terezín uma cidade só para Judeus, onde, segundo ele, “os Judeus estariam a salvo das atribulações da guerra”. Antes da guerra, a população da cidade rondava as 5.000 pessoas. No auge da guerra o Gueto/Campo de Terezín ultrapassou as 55.000 pessoas. Como consequência, milhares morreram de desnutrição e doenças várias. No entanto, Terezín não era um campo de morte, mas sim um campo de trânsito. A maioria dos prisioneiros foi deportada para Auschwitz, onde morreu nas câmaras de gás. 


Obrigada Sónia, esta entrevista é marcante e uma enorme lição de vida.
“Everything is a present”
Assim como dar-nos a conhecer mais sobre o poder e a influência da “Música no Holocausto”

Beijinhos





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