BRUNDIBÁR EM TEREZÍN
A história do bem a vencer o mal
proporcionava conforto aos pequenos artistas, bem como aos companheiros de
infortúnio que assistiam aos espectáculos. Brundibár
era uma centelha de luz e de esperança que desafiava a longa noite nazi.
Alice começou a ter lições de piano aos cinco anos de idade. Por volta dos dez anos já participava em concertos, interpretando Bach, Beethoven, Schumann e Smetana.
O pequeno Raphael veio a ser o membro mais jovem do elenco de Brundibár, onde desempenhou por várias vezes o papel de “pássaro”. O marido, Leopold Sommer, foi deportado em 1944 para Auschwitz e depois para Dachau, onde morreu.
Alice Herz-Sommer no seu 108º aniversário
Fotografia de propaganda
nazi do elenco original de Brundibár,
em Terezín
A ópera infantil Brundibár foi escrita em 1938, com
música do compositor checo Hans Krása (que seria deportado para Terezín em
1942) e libreto de Adolf Hoffmeister.
Foi estreada num orfanato judeu na cidade de Praga, já no período da ocupação
nazi.
Brundibár
foi interpretada pela primeira vez no campo de concentração de Terezín, a 23 de
Setembro de 1943. A ópera é uma alegoria à tirania de Hitler e à sua queda
eminente, tendo subido ao palco 55 vezes, sob o olhar atento dos opressores
nazis.
Os
heróis de Brundibár, ilustração de
Maurice Sendak
Brundibár, conta a história
de dois irmãos que precisam de dinheiro para comprar leite para a mãe doente. A
sua demanda é atormentada por um tocador de realejo malvado, chamado Brundibár,
que tudo faz para os atrapalhar. Mas, com a ajuda de três animais inteligentes
(um pássaro, um cão e um gato), as crianças conseguem derrotar o fanfarrão e
regressar a casa em triunfo.
Cartaz
da ópera Brundibár, em Terezín
Em Junho de 1944 os alemães autorizaram a
um grupo de representantes da Cruz Vermelha Dinamarquesa e da Cruz Vermelha
Internacional, uma visita a Terezín. Para o efeito foi montada toda uma
operação destinada a uma campanha para convencer a Cruz Vermelha sobre a
qualidade das condições de vida no campo. Uma das primeiras medidas foi aliviar
o gueto do excesso de população, deportando milhares de pessoas para Auschwitz.
Brundibár fez
parte da campanha orquestrada pelos nazis. Duas semanas depois da visita da
Cruz Vermelha, Hans Krása e a maior parte das crianças do elenco foram enviados
para as câmaras de gás de Auschwitz.
Das cerca de 15000 crianças deportadas
para Terezín, sobreviveram pouco mais de 100. O vídeo que se segue é um excerto
do filme de propaganda nazi “Hitler dal Židům město” (“Hitler deu uma cidade aos
Judeus”); pertence ao Museu Judaico de Praga e foi exibido nas cerimónias do
Dia do Holocausto, em 27 de Janeiro de 2010.
Brundibár
Mais recente...
Nos últimos anos, a ópera tem conhecido
uma popularidade cada vez maior e tem sido representada em Inglaterra, Itália,
República Checa, Israel e Estados Unidos da América. Em 1995, em Áustria e na
Alemanha, Brundibár fez parte de um
projecto escolar em homenagem aos sobreviventes de Terezín.
ALICE
HERZ- SOMMER
A
SOBREVIVENTE MAIS ANTIGA DO HOLOCAUSTO
Alice Hertz-Sommer, aos 108
anos, na sua casa em Londres
Alice Herz-Sommer nasceu em Praga, em 1903, numa família de ascendência
judaica de elevado nível cultural. A mãe era de uma família de músicos da
Morávia, e amiga de infância de Gustav Mahler. Alice lembra-se de assistir à
estreia da 2ª Sinfonia de Mahler em Praga, tinha então oito anos de idade.
Alice
Herz-Sommer com Franz Kafka
Franz Kafka fazia parte de um
círculo de escritores que se reunia semanalmente em casa da família Herz. Alice
recorda-o como uma figura carismática, mas pessimista.
Alice começou a ter lições de piano aos cinco anos de idade. Por volta dos dez anos já participava em concertos, interpretando Bach, Beethoven, Schumann e Smetana.
Em 1939, quando os alemães
ocuparam a Boémia e a Morávia, Alice Herz-Sommer já tinha uma carreira
consagrada como pianista na Europa Central. Nesse mesmo ano, uma parte da sua
família conseguiu fugir para a Palestina. Alice, no entanto, ficou em Praga a
cuidar da mãe doente, que foi a primeira a ser deportada para Terezín. Em Julho
de 1943, Alice, o marido e o filho – Raphael -, de seis anos de idade, foram igualmente
deportados para aquele campo.
Em Terezín, apesar das condições de vida duríssimas, Alice Herz-Sommer
deu mais de 100 concertos, juntamente com outros colegas músicos.
Para os alemães, em geral apreciadores de música, assistir aos concertos
era puro entretenimento. Aliás, essa era uma razão para manterem vivos certos
prisioneiros (músicos dotados), como Alice Herz-Sommer. Mas a maioria da audiência
nos concertos de Terezín era composta por pessoas idosas, tristes e debilitadas,
que encontravam na música um suporte moral e espiritual, que lhes dava uma certa
sensação de liberdade. Mesmo que por instantes, podiam esquecer-se do horror
que as rodeava.
O pequeno Raphael veio a ser o membro mais jovem do elenco de Brundibár, onde desempenhou por várias vezes o papel de “pássaro”. O marido, Leopold Sommer, foi deportado em 1944 para Auschwitz e depois para Dachau, onde morreu.
Foto: Alice Herz-Sommer com o
filho, Raphael
Em Maio de 1945, o Exército Vermelho libertou o campo e Alice e o filho
regressaram a Praga. Mas a situação era dolorosa: parte da sua família, a
família do marido, bem como muitos amigos, tinham desaparecido. Em 1949 decidiu
emigrar para Israel, onde se reuniu à família. Lá viveu e trabalhou como
professora de música. Alice Herz-Sommer recorda os anos que viveu em Israel
como um dos períodos mais felizes da sua vida. Em Israel, apesar da tensão
política, vivia-se em democracia, uma experiência de grande significado para
quem conheceu as ditaduras de Hitler e Stalin.
Raphael Sommer (1937-2001)
Em 1986, a pedido do filho (violoncelista
e maestro de renome), muda-se para Londres. Raphael morre subitamente aos
sessenta e cinco anos, deixando mulher e dois filhos. Alice sofre um dos golpes
mais duros da sua vida. Mas, Alice Herz-Sommer vive cada dia da sua vida com um enorme
sentimento de gratidão, porque sente a vida como uma dádiva. O seu optimismo
inesgotável ajudou-a a vencer mais este desgosto.
Alice Herz-Sommer vive num pequeno apartamento em
Londres. Continua a praticar piano diariamente e frequentou até há pouco tempo
a Universidade para a Terceira Idade, três vezes por semana, onde estudou História,
Filosofia e História do Judaísmo.
A Garden of Eden in Hell:
The Life of Alice Herz-Sommer
Em 2008 foi publicada a sua biografia com o título A
Garden of Eden in Hell. Nela é realçada a luta incansável de uma mãe que
tudo faz para criar um ambiente de felicidade para o seu filho, no meio da
atrocidade e da barbárie. Com base em A Garden of Eden in Hell, Anthony
Robbins fez em 2011 uma entrevista a Alice Hertz-Sommer, a sobrevivente mais
antiga do Holocausto. É com ela que terminamos este artigo.
Nota:
Hitler “criou” em Terezín uma
cidade só para Judeus, onde, segundo ele, “os Judeus estariam a salvo das
atribulações da guerra”. Antes da guerra, a população da cidade rondava as
5.000 pessoas. No auge da guerra o Gueto/Campo de Terezín ultrapassou as 55.000
pessoas. Como consequência, milhares morreram de desnutrição e doenças várias. No
entanto, Terezín não era um campo de morte, mas sim um campo de trânsito. A
maioria dos prisioneiros foi deportada para Auschwitz, onde morreu nas câmaras
de gás.
Obrigada Sónia, esta entrevista é marcante e uma enorme lição
de vida.
“Everything is a present”
Assim como dar-nos a conhecer mais sobre o poder e a influência
da “Música no Holocausto”
Beijinhos
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário