Orquestra
de prisioneiros de Auschwitz
Os judeus, perseguidos e
obrigados a viver em condições sub-humanas na Europa sob domínio nazi, lutaram
com todos os meios ao seu alcance para preservar a sua humanidade. A fome, a
doença e o medo da morte eram uma constante nos guetos e nos campos de
concentração. Foi na música, enquanto linguagem universal que tem o poder de
expressar o que não pode ser dito ou explicado por palavras, que muitos
encontraram a força espiritual para resistir aos horrores que os rodeavam.
A música que era composta ou interpretada
durante o Holocausto, proporcionava às pessoas uma sensação de conforto
emocional, ao mesmo tempo que as distraía da sua horrível condição.
AS
CANÇÕES DO GUETO
Cantiga de
rua no gueto
A canção de gueto, além de permitir uma fuga à
realidade, documenta a vida no gueto e mantém a tradição de um género musical -
a canção yiddish, nascida nos guetos da Polónia, Rússia ou Roménia. A canção de
gueto revela ainda uma enorme capacidade de sofrimento, mas também uma vontade
indómita de sobreviver, uma urgência em criar, cantar e até de rir.
ARBETLOSE
(“A MARCHA
DO DESEMPREGADO”)
Einjs, tswej, draj, fir,/Arbetlose senen mir!
Um, dois, três, quatro,/os
desempregados somos nós!
A canção Arbetlose (“A Marcha do Desempregado”), com música e letra de
Mordechai Gebirtig, grita a revolta de um povo condenado ao desemprego e à
miséria, que deambula pelas ruas sem nada poder fazer.
Mordechai
Gebirtig (1877-1942)
Mordechai Gebirtig é um dos nomes mais importantes ligados à canção
popular yiddish. Com simplicidade e humor, Gebirtig documenta através das suas
canções a história de Kazimierz, o bairro judaico de Cracóvia onde o poeta
nasceu, viveu e trabalhou como carpinteiro. Nas suas canções, Gebirtig fala da
pobreza, do desespero e da miséria, mas também do amor, da felicidade e da
esperança.
Mordechai Gebirtig dedicou os poemas às suas três filhas, criando para
eles melodias que improvisava numa flauta pastoril. Nunca quis publicar o seu
trabalho, mas tinha um diário onde anotou grande parte das canções. Esse diário,
salvo por uma amiga que sobreviveu ao Holocausto, encontra-se hoje no YIVO Institute for Jewish Research em
Nova Iorque.
UNDZER SHTETL BRENT!
(“A
nossa cidade está a arder!”)
Es brent!Briderlekh, s’brent!
Oy undzer orem shtetl, nebokh, brent!
Tudo está em
chamas, irmãos! Tudo está em chamas!
Oh, a nossa
pobre cidade, irmãos, está em chamas!
Em 1936, a comunidade judaica
da pequena cidade polaca de Przytyk foi vítima de um pogrom. Em resposta,
Gebirtig escreveu em 1938 uma canção revolucionária que se tornaria na famosa –
“Undzer shtetl brent!” (“A nossa cidade está a arder!”). A canção revelou-se
uma profecia do Holocausto. Não muito tempo depois, os nazis destruíram as
comunidades judaicas polacas e em 1941, Gebirtig e a sua família foram
obrigados a viver no gueto de Cracóvia.
Em 1942, Gebirtig foi assassinado pelos
nazis quando se recusou a obedecer a uma ordem de deportação. A mulher e as
filhas pereceram em campos de concentração.
Capa de S’Brent,
primeira edição das “Canções de Gueto”
de Mordechai Gebirtig (Cracóvia, 1946)
“Undzer shtetl brent!” viria a
ser uma canção de Resistência nos guetos da Polónia, durante a Segunda Guerra
Mundial, e ainda hoje é uma das músicas mais cantadas nas cerimónias de
comemoração do Holocausto, pelo mundo inteiro.
“ZOG
MIT KEYNMOL”
HINO DOS PARTISANOS
Apesar da vigilância apertada, foram
muitos os judeus que conseguiram fugir dos guetos e campos, formando os seus
próprios grupos de resistência armada.
O autor do Hino dos Partisanos é Hirsh
Glik, um jovem internado no gueto de Vilna, que em 1943 escreveu o poema “Zog
mit Keynmol”, para a Organização Unida dos Combatentes Judeus de Vilna (FPO). O
título do poema significa “Nunca digas” e deriva da primeira frase da canção -
“Nunca digas que chegaste ao fim da linha”. O poema foi adaptado a uma melodia
russa escrita em 1935, tornando-se no Hino de Resistência dos partisanos judeus
do Leste Europeu. “Zog mit Keynmol” é cantada em Israel e no estrangeiro, nas
cerimónias do Dia da Memória do Holocausto.
Terminamos este artigo com a audição do Hino dos Partisanos - “Zog mit
Keynmol”, na interpretação da cantora israelita Chava Alberstein.
Este é o primeiro de um conjunto de artigos sobre este tema e todos eles resultado das
preciosas pesquisas da nossa querida amiga,
Sónia
Craveiro.
Muito
obrigada
Beijinhos
J
Fontes:
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