quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A HISTÓRIA DE UM HINO







“HATIKVÁ” 



“Hatikvá”, o Hino nacional de Israel, interpretado em violinos recuperados do Holocausto



     “Hatikvá” [“A Esperança”], é o Hino Nacional de Israel. “Hatikvá” reflete a esperança de quase dois mil anos do povo judeu em regressar à Terra de Israel, sua pátria ancestral e berço do Judaísmo no século XVIII a. e. c..




 
   
Os versos foram adaptados do poema “Tikvatenu” [“A Nossa Esperança”] da autoria de Naphtali Herz Imber (1856-1909), um poeta judeu da Galícia, então parte do Império Austro-Húngaro, e um sionista militante, que viveu na Palestina Otomana entre 1882 e 1887. O poema de Imber viria a tornar-se no Hino de nove colonatos sionistas da Palestina. Em 1888, Samuel Cohen, um jovem imigrante romeno, adaptou uma melodia popular da sua Roménia natal - “Carul cu boi” - ao poema de Imber.





Naphtali Herz Imber

“Carul cu boi”

Cartão de participante do Primeiro Congresso Sionista
    O poema seria igualmente adotado como Hino do Movimento Sionista em 1897, no Primeiro Congresso Sionista, que teve lugar em Basileia (Suíça). Em 1898, um ano após o congresso, Theodor Herzl anuncia um concurso para um Hino Nacional Judeu. Concorreram 43 canções em cinco línguas diferentes e todas foram rejeitadas. Nesse mesmo ano, Herzl visita a Palestina e em Rehovot é recebido por colonos que lhe cantam “Hatikvá”, na versão de Samuel Cohen. Em 1900, no Quarto Congresso Sionista, que teve lugar em Londres, os delegados recebem “Hatikvá” entusiasticamente. “Hatikvá” seria reconhecido como Hino do Movimento Sionista no 18º Congresso, em 1933, na cidade de Praga.
 

14 de Maio de 1948, Dia da Independência em Tel Aviv

 

Em 1945 o famoso maestro Bernardino Molinari chega à Palestina (ainda sob mandato britânico), para dirigir a Orquestra da Palestina, futura Filarmónica de Israel. Uma das primeiras coisas que Molinari faz é harmonizar “Hatikvá” para coro e orquestra; fá-lo com grande mestria ao estilo de um coral de Bach. A versão do maestro italiano continua, ainda hoje, a ser interpretada.

     Foi Bernardino Molinari quem dirigiu “Hatikvá”, quando Ben-Gurion proclamou a independência do Estado de Israel, a 14 de Maio de 1948, em Tel Aviv. Nesse mesmo ano, quando Israel inicia a sua busca a colaboradores nazis, o maestro desaparece misteriosamente. Mais tarde transpirou que Molinari era um simpatizante fascista e que se tinha correspondido com Joseph Goebells, o ministro da propaganda nazi.

 

Em 2004, após um longo debate no Knesset, “Hatikvá” torna-se oficialmente no Hino Nacional de Israel.




A Melodia de “Hatikvá”



    Se não há dúvidas quanto à autoria do poema, o mesmo não se pode dizer da música. Esta continua a ser tema de debate. É consensual entre os musicólogos que a raiz do Hino de Israel se encontra numa canção de Guiseppino del Biado, um compositor italiano do século XVII, intitulada “La Mantovana”, que começa com a letra “Fuggi, fuggi, fuggi dal questo cielo”.



Giuseppino del Biado-Fuggi, fuggi, fuggi, Kaltrina Miftari & Safet Berisha


A melodia de del Biado depressa se espalhou pela Europa, integrando-se nos folclores locais, sob títulos tão variados como “Pod Krakowem” (uma canção popular polaca), “Kateryna Kuheryava” (Ucrânia), “Virgen de la Cueva” (Espanha), “Cucuruz cu frunza-n sus” ou “Carul cu boi” (Roménia), esta última usada por Samuel Cohen.

 

“La Mantovana” também inspirou o compositor checo Bedřich Smetana que a usou em Vltava (“Moldava”), um dos seis poemas sinfónicos que compõem o ciclo Má Vlast (“A Minha Pátria”). Aliás, há muito quem defenda que a melodia de “Hatikvá” foi roubada a Smetana. Certo é que ambas comungam da mesma estrutura melódica.

 

Bedřich Smetana (1824-1884)


Arie Vardi conducting Smetana Moldau (Vltava)


Israel Philharmonic Orchestra



UMA HERANÇA DE 600 ANOS
 
    Segundo Astrith Baltsan, uma pianista e musicóloga israelita que ao longo de oito anos investigou a história de “Hatikvá”, a melodia está associada a uma oração sefardita – Birkat Hatal -, escrita em Toledo pelo rabino Isaac bar Sheshet, no século XIV. Baltsan tirou esta conclusão depois de consultar o trabalho Tesouros das Melodias Hebraico-Orientais de Abraham Zvi Idelsohn, pioneiro na área da etnomusicologia judaica.
     Ainda segundo Astrith Baltsan, a melodia sefardita terá encontrado o seu caminho para Itália, após a expulsão dos judeus de Espanha, em 1492, sendo que muitos se refugiaram em Itália, dando assim origem à melodia de Guiseppino del Biado, – Fuggi, fuggi, fuggi al cielo mio. No entanto, vários etnomusicólogos contestam a teoria de Baltsan, pois consideram as transcrições de Idelsohn pouco fidedignas, à luz da ciência atual.

Sobreviventes de Bergen Belsen cantando “Hatikvá” no dia 20 de Abril de 1945
    No vídeo que mostramos abaixo sobre o trabalho de Astrith Baltsan, podemos ouvir um dos testemunhos mais comoventes da história de “Hatikvá”, quando um grupo de sobreviventes do campo de concentração de Bergen Belsen canta “A Esperança”. A gravação história foi realizada pela BBC, no dia 20 de Abril de 1945, cinco dias após a libertação.
     Este pequeno resumo sobre a história de “Hatikvá” dá-nos uma ideia do muito que se tem investido para esclarecer a origem da sua melodia. Mas talvez isso não seja o mais importante. O mais importante é que “Hatikvá” está no coração dos judeus.
Hatikvah – IN LA. MATI GALA NIGHT MAY 19, 2012
Este artigo foi mais um miminho da minha amiga
Sónia Craveiro
A quem agradeço com o mesmo carinho de sempre.
 Muito obrigada

Beijinhos

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