quarta-feira, 15 de março de 2017

Raizes na Pedra




Também na pedra, o homem 
deixa raízes.



Placa de mármore, encontrada em 2011, numa Vila Romana, perto de
 S. Bartolomeu de Messines.



Dessas raízes levanta-se a árvore que de folha em folha conta a sua vida, o seu tempo, a sua história. Olhando-a a nós próprios nos vemos, num passado que faz o nosso presente e traça o nosso futuro.

A data provável da mesma é de 390,final do séc. IV e nela se destaca o nome de Yehiel, nome que aparece frequentemente referenciado nos livros hebraicos.
De acordo com os peritos podemos ainda ler "O Judeu é abençoado por D.S"

A questão que se levanta é de saber qual a relação da pessoa a quem este nome pertencia com a Vila Romana. Proprietário? Escravo?

Podemos então dizer que nos fins do séc. IV foi dada sepultura a um Judeu no espaço futuramente português.

Esta placa de dois metros de largura parece ser uma laje de sepultura e foi encontrada por uma equipa de arqueólogos alemães dirigida por Friederich Schiller, numa camada de entulho e de pedras.

Quando terão chegado? O momento da sua vinda tem sido incansavelmente estudado.
Com os Fenícios? No tempo da destruição do 1º Templo com Nabucodonosor? Depois da vitória do General Tito? Quando o Imperador Adriano arrasa Jerusalém? Como teriam vindo? Atravessando o Mediterrâneo? Por caminhos terrestres?


Uma outra lápide de mármore foi encontrada no cemitério paleo-cristão de Mértola e guardada no Museu desta cidade.


O epitáfio escrito em latim e está incompleto. Algumas indicações nos dá… “Despediu-se da vida em paz" e a data da sua morte: no quarto dia das Nonas de Outubro de 520. Ou seja no dia 4 de Outubro de 482. A acompanhar as palavras e a data um menorah, símbolo do Judaísmo.




Encontra-os D. Afonso Henriques, em Santarém, quando conquista a cidade. Dedicavam-se maioritariamente a actividades artesanais, comerciais e intelectuais.

O seu grão-rabino, Yahia ben Yahia, foi escolhido pelo nosso primeiro rei como homem da sua confiança com funções comparáveis às de ministro de Finanças.

No que diz respeito à Sinagoga terá sido uma das mais antigas no que hoje é território português, dado que aparece já referida em 1095, no Foral que D. Afonso VI de Leão outorga a esta cidade. Dela conhecemos apenas a sua localização junto à extremidade oriental de S. João de Alpram.



O mesmo não acontece relativamente às fundações das Sinagogas da Judiaria Velha no tempo de D. Dinis e da Sinagoga de Monchique, no Porto, no tempo de D. Fernando.



Lápide em pedra de calcário da Sinagoga Grande de Lisboa, mandada construir por Judá, filho de Guedelha, no tempo de D. Dinis, primeira década do sec. XIV.




Foi encontrada após o terramoto de 1755, em Lisboa e encontra-se hoje na Sinagoga-Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto, em Tomar.

De acordo com a tradução do texto:


"Esta é a porta do Senhor pela qual os justos entrarão. Entrai pelas suas portas com graças e em seus átrios com louvor. Vós que ides no caminho do Senhor acorrei à casa de culto. Três vezes por dia vinde a suas portas em acção de graças. E tomai nas vossas mãos cítaras e cantai um cântico de graças. Edifício formoso e belo construiu Guedaliah que tem o seu assento nas Assembleias do Justos e da Congregação. Ao nome do Senhor levantou esta obra magnífica. E acabou a obra do nosso D.S no primeiro dia do nosso famoso Atanim no ano de cinco mil e sessenta e sete do nosso cômputo."

Inscrição hebraica que pertenceu à Sinagoga de Monchique no Porto, erguida no tempo de D. Fernando, sob a orientação do Rabi-mor, D. Judá Aben Menir.




Lápide da Sinagoga de Monchique, no Porto.



Nela consta o nome do arquitecto que a desenhou e construiu: José ben Arieh. Guardada, hoje, no interior do Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.

Diz o texto hebraico nas oito linhas traduzidas para português:

1 - “Quem disser “como não foi resguardado o edifício nomeado por meio dum muro”, 2 - acaso não saberá que eu tenho um familiar que conhece altas personagens, 3 - que me guarda? Acaso não dirá: “Ágil e ardoroso, eu sou um muro”? 4 - O mais nobre dos judeus, o mais forte dos exércitos, ei-lo firme na coluna dos príncipes! 5 - Bom protector do seu povo, serve a Deus com a sua integridade; construiu uma casa ao Seu Nome, de pedras aparelhadas. 6 - Segundo depois do rei, à cabeça é contado em grandeza e na presença dos reis tem assento. 7 - É ele o rabino Dom Judá ben Maneyir, luz de Judá, e a ele pertence a beleza da autoridade. 8 - Por ordem do rabino, que viva, Dom José ben Arieh, intendente, encarregado da obra).




Lápide hebraica guardada no Espaço " Arte e Memória" de Gouveia..



O processo da Inquisição de Lisboa relativo a João Lopes, mercador, Cristão-Novo de Gouveia, indica-nos que os Judeus se tinham localizado, em redor da Igreja de S. Pedro, habitando aquele uma casa defronte do Templo. Constava que ele era Rabi dos Cristãos-Novos e a sua casa Sinagoga. O denunciante Aires Pinto, Cristão-Velho, acrescentava que na casa de João Lopes existia uma inscrição que parecia ser em hebraico:


"A glória desta última casa será maior do que a primeira, diz o Senhor dos Exércitos. Concluída a casa da nossa santificação e da nossa glória, no ano de 5257. E os resgatados do Senhor voltarão e virão para Sião em alegria."


Este trabalho foi realizado na integra pela minha querida amiga,

Dora Caeiro


Muito obrigada J


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