Sinagoga Wolpa, foi construída no inicio do Séc. XVIII.
As sinagogas em madeira são, sem sombra de dúvida, um dos símbolos mais
representativos da vida judaica nas áreas rurais da vasta região que, alguns
chamam de yiddishland, a terra do iídiche. Nessa região, os judeus levavam sua
vida, falando ídiche e seguindo seus costumes, independentemente da mudança de
soberania entre polacos e russos.
Sinagoga Grodno, foi construída na segunda metade do Séc. XVIII.
A abundância de madeira nas florestas na Polónia e Lituânia barateava e facilitava as construções nesse material. Há quem afirme que as sinagogas de madeira foram construídas baseando-se no modelo de igrejas e mansões da nobreza polaca. Esta seria, no entanto, uma visão simplista do assunto, pois as casas de oração erguidas por carpinteiros e artesãos judeus tinham seu próprio estilo artístico e valor arquitetónico.
Sinagoga Gwozdziec, construída no inicio do Séc. XVII.
Estudos sobre sua história e evolução apontam Podília e Galícia como as
regiões onde, no século 17, ter-se-ia iniciado tal estilo de construção, daí se
espalhando para a Ucrânia, Polónia, Lituânia, Bielorússia, assim como Bavária,
Rússia, chegando à Sibéria e a Alemanha. O uso desse material continuou até o
início do século passado, sendo que na virada do século 19 para 20, ergueram-se
outras vinte e três sinagogas. Acredita-se que no decorrer de quatro séculos
foram construídas mais de mil sinagogas em madeira.
Bimah da sinagoga Gabin.
Inicialmente, eram simples as construções: uma sala rectangular para as
orações, coberta por um telhado em madeira. Com o tempo, foram-se
sofisticando, adoptando a sobreposição de pisos e telhados; galerias e abóbadas,
em diferentes níveis; fachadas com torres laterais, além de vários ambientes e
anexos em volta do hall central. Um detalhe interessante das sinagogas maiores
era a harmoniosa sobreposição de tectos, que atingiam grandes alturas e remetiam
ao formato de pagodes, dando graça especial à construção. Esses tectos também
recebiam atenção especial, com balaustradas e frisos de madeira decorados. Em
seu interior, os artistas judeus criavam bimot e Arcas Sagradas ou Aron
ha-Codesh, ricamente entalhadas na própria madeira. As sinagogas mais
requintadas foram erguidas na área que, hoje, corresponde ao sudeste da
Lituânia, ao oeste da Bielorússia e ao distrito de Bialistok.
Resgatando as sinagogas perdidas
Durante o Holocausto, 6 milhões de judeus foram brutalmente massacradas pelos
nazis e seus colaboradores. Essa fúria se abateu também sobre todos os
objectos relacionados ao culto e ao património sagrado de nosso povo. A violação
e destruição de sinagogas foi uma operação planeada e executada com cuidado;
milhares foram arrasadas e centenas das sinagogas em madeira, queimadas.
Sinagoga em Gabin, foi construída no inicio do Séc. XVIII.
Em virtude da Guerra Fria, toda a
Europa Oriental foi fechada a estudiosos ocidentais que só passaram a ter
permissão para pesquisas nos últimos quinze anos. Durante décadas, acreditou-se
que todas as sinagogas de madeira haviam sido destruídas. Mas, na década de
1990, pesquisadores da Universidade Hebraica descobriram seis sinagogas ainda de
pé, em aldeias remotas, que milagrosamente sobreviveram ao Holocausto e a meio
século de negligência. Todas, porém, em estado lastimável. Em 1999, quando
Albert Barry, produtor cinematográfico, foi à Lituânia para filmar o
documentário sobre a riqueza perdida em arte judaica europeia, The Lost Wooden
Synagogues of Eastern Europe, conseguiu localizar mais outras quatro.
Sinagoga em Lunna Wola
construída no final do Séc. XVIII.
Felizmente, há um visível aumento, no mundo inteiro, no interesse em resgatar os
símbolos de um universo judaico que deixou de existir. São livros,
documentários, palestras, exposições de maquetes e outros projectos, que visam
reconstruir alguns dos mais belos modelos de sinagogas em madeira e de toda uma
época que se foi. Este resgate perpetua a riqueza de nosso passado e de nossa
tradição, que tantos tentaram arrebatar de nós. Porque, como escreveu um poeta
de França, "...O passado é um segundo coração que bate dentro de nós"...
Esta jóia foi descoberta dentro de
uma das sinagogas. Infelizmente, das dez Sinagogas visitadas, foi a única
evidência de um símbolo judaico.
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