Claude
Lévi-Strauss (Bruxelas, 28 de Novembro de 1908 – Paris, 30 de Outubro de 2009)
foi um antropólogo, professor e filósofo francês. É considerado fundador da
antropologia estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes
intelectuais do século XX.
Professor
honorário do Collège de France, ali
ocupou a cátedra de antropologia social de 1959 a 1982. Foi também membro da
Academia Francesa - o primeiro a atingir os 100 anos de idade.
Claude
Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, de uma família judia de origem alsaciana, das
cercanias de Estrasburgo. Mas, à época do seu nascimento, seu pai, Raymond
Lévi-Strauss - um pintor retratista, que acabou arruinado pelo advento da
fotografia - tinha um contrato a cumprir na cidade e sua mulher, Emma, estava
prestes a dar à luz. Assim, o pequeno Claude ali passou as primeiras semanas de
vida.
O
avô materno, com quem ele viveu durante a Primeira Guerra Mundial, era o rabino
da sinagoga de Versailles. Seu bisavô, Isaac Strauss, era regente de orquestra
na corte - à época de Luís Filipe e depois, sob Napoleão III.
Depois
de concluir a escola primária em Versalhes, instala-se em Paris para prosseguir
seus estudos secundários - primeiro no tradicional Lycée Janson-de-Sailly e depois no Lycée Condorcet, um dos melhores colégios de Paris.
No
final dos seus estudos secundários, encontra um jovem socialista filiado a um
partido belga e se liga à esquerda, familiarizando-se rapidamente com a
literatura política que até então lhe era desconhecida, incluindo Marx.
Torna-se militante da S.F.I.O., encarregado de coordenar o grupo de estudos
socialistas, tornando-se depois Secretário-geral dos Estudantes Socialistas.
Estuda
Direito na Faculdade de Direito de Paris, obtendo sua licença antes de ser
admitido na Sorbonne, onde se graduou em Filosofia em 1931 (obterá seu
doutorado em 1948, com a tese As estruturas elementares do parentesco).
Depois
de passar dois anos ensinando filosofia no Liceu Victor-Duruy de Mont-de-Marsan e no liceu de Laon, o diretor da Escola Normal Superior de Paris, Célestin Bouglé, por telefone, convida-o
a integrar a missão universitária francesa no Brasil, como professor de
sociologia da Universidade de São Paulo. Esse telefonema seria decisivo para o
despertar da vocação etnográfica de Lévi-Strauss, conforme ele próprio iria
declarar mais tarde:
"Minha carreira foi decidida num domingo de
outono de 1934, às 9 horas da manhã, a partir de um telefonema.
Entre
1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de
São Paulo, juntamente com os professores integrantes da missão francesa, entre
eles: sua mulher Dinah Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Jean Maugüé e Pierre
Monbeig.
Junto
com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como
Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro
Tristes Trópicos (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de
antropólogo nasceu nessas viagens.
Numa de
suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contacto
com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito
conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi (caingangues) não eram
nem verdadeiros índios, nem selvagens" (Lévi-Strauss 1957:160-161).
Porém,
ao final do primeiro ano escolar (1935/1936), ao visitar os Cadinéus na
fronteira com o Paraguai e os bororos no centro de Mato Grosso, rendendo-lhe
sua primeira exposição em Paris nas férias de (1936/1937), o que foi
fundamental para a entrada de Lévi-Strauss no meio etnológico francês, conforme
admite ele próprio: "Eu precisava fazer minhas provas de etnologia, porque
não tinha formação alguma. Graças à expedição de 1936, consegui créditos do
Museu do Homem e da Pesquisa Científica, ou do que acabaria se chamando assim.
Com esse dinheiro, organizei a expedição nambiquara."
Em 1938, foi realizada uma expedição até os nambiquaras no
Mato Grosso, com financiamento francês e brasileiro, que deveria durar um ano.
No entanto, durou apenas seis meses - de maio a novembro do mesmo ano.
Além do casal
Lévi-Strauss, participaram o médico e etnólogo francês Jean Vellard e o
antropólogo brasileiro Luís de Castro Faria, que aponta os problemas que a
missão enfrentou com os órgãos públicos brasileiros, por contar com o
patrocínio de Paul Rivet, ligado ao Partido Socialista francês, e que se
tornara persona non grata no Brasil porque supostamente teria difamado o país
na França. Já Luis Grupioni aponta as resistências existentes no SPI quanto à
segurança da missão e a relutância de Lévi-Strauss em aceitar um fiscal do
Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas: "Mais
que a possível simpatia socialista identificada aos membros da expedição, era a
perspectiva de fiscalização e controle de uma expedição estrangeira, o que
teria impedido a concessão da licença."
A missão também visitou os últimos homens e mulheres
Tupi-Kaguahib no Rio Machado, hoje considerados desaparecidos.
O período que passou no Brasil foi fundamental em sua
carreira e no seu crescimento profissional, além de ter despertado em Strauss
sua vocação etnológica. Disse,
"Um ano depois da visita aos Bororo, todas as
condições para fazer de mim um etnógrafo estavam satisfeitas"(1957).
Após três anos no Brasil, Lévi-Strauss voltou à França,
reconhecido no meio etnológico. Diz ele, em Tristes Trópicos: "Um ano
depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo
estavam satisfeitas."
Seu livro As estruturas elementares do parentesco foi
publicado em 1949 e, instantaneamente, consagrou-se como um dos mais
importantes estudos de família já publicados. O título é uma paráfrase ao
título do livro de Émile Durkheim, As
formas elementares da vida religiosa.
No final da década de 1940 e começo da década seguinte,
Lévi-Strauss continuou a publicar e experimentou considerável sucesso
profissional. Em seu retorno à França ele se envolveu com a administração do
CNRS e do Musée de l'Homme, até ocupar
uma cadeira na quinta seção da École
Pratique des Hautes Études, aquela de 'Ciências Religiosas' que havia
pertencido previamente a Marcel Mauss e que Lévi-Strauss renomeou para
"Religião Comparada de Povos Não-Letrados".
Apesar de bem conhecido em círculos académicos, foi apenas
em 1955 que Lévi-Strauss se tornou um dos intelectuais franceses mais
conhecidos ao publicar Tristes Trópicos, livro autobiográfico acerca de sua
passagem pelo Brasil e contacto com os ameríndios na década de 1930, que contém uma
visão eurocêntrica, e até certo ponto colonialista.
Em 1959 Lévi-Strauss foi nomeado para a cadeira de
Antropologia social do Collège de France.
Por volta desse período publicou Antropologia estrutural, uma coleção de
ensaios em que oferece tanto exemplos como manifestos programáticos do
estruturalismo. Começou a organizar uma série de instituições e confrontos
entre as visões existencialista e estruturalista que iria eventualmente
inspirar autores como Clastres e Bourdieu. Foi também eleito doutor honoris
causa de diversas universidades pelo mundo.
"O antropólogo é o astrónomo das
ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as
configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento,
das que estão imediatamente próximas do observador." Antropologia
Estrutural, 1967.
"Meu
único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser
humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter
presente". - Aos 97 anos, em 2005, quando recebeu o 17º Prêmio
Internacional Catalunha, na Espanha.
Apesar
de aposentado, Lévi-Strauss continuava a publicar ocasionalmente volumes de
meditações sobre artes, música e poesia, bem como reminiscências de seu
passado.
Claude
Lévi-Strauss morreu em 30 de Outubro de 2009, poucas semanas antes da data em
que faria 101 anos. A morte só foi anunciada quatro dias depois.
O
presidente da França Nicolas Sarkozy o definiu como "um dos maiores
etnólogos de todos os tempos". Bernard Kouchner, o ministro de Assuntos Exteriores
francês, afirmou que Lévi-Strauss "quebrou com uma visão etnocêntrica da
história e humanidade […] Em um tempo em que tentamos dar sentido a ideia de
globalização, construir um mundo mais justo e humano, eu gostaria que o eco
universal de Claude Lévi-Strauss ressonasse mais forte". O jornal The Daily Telegraph afirmou no obituário
do antropólogo que Lévi-Strauss foi "uma das influências pós-guerra
dominantes na vida intelectual francesa e o principal expoente do
Estruturalismo nas Ciências sociais". A secretária permanente da Académie Française Hélène Carrère d'Encausse
disse: "Ele foi um pensador, um filósofo […] Nós nunca encontraremos outro
como ele".
Encontra-se sepultado no Cimetière de Lignerolles, Lignerolles na França.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_L%C3%A9vi-Strauss
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