Uma
Orquestra pela Paz
Em 1999, o
maestro e pianista israelita Daniel Barenboim e o já falecido escritor e
académico palestiniano Edward Said reuniram-se na cidade alemã de Weimar, para
um workshop destinado a jovens músicos israelitas, palestinianos e de países
árabes, tais como o Líbano, a Jordânia, a Síria ou o Egipto.
Logo depois, os
amigos Barenboim e Said, fundaram uma orquestra com o objetivo de estabelecer
uma ponte entre as várias culturas do Médio-Oriente, estimulando assim o
diálogo através da experiência de fazer música em conjunto: a orquestra
West-Eastern Divan, em alusão à coletânea poética de Goethe, com o mesmo título
(em alemão West-östlicher Divan).
A orquestra tem
sede em Sevilha, onde reúne anualmente para um curso de Verão, e é suportada
pela Fundação Barenboim/Said em Sevilha, a Junta de Andalucia e o Governo de
Espanha.
No seu livro intitulado Está tudo ligado, Barenboim diz o
seguinte: « (…) Fomos [Barenboim e
Said] buscar o nome do nosso projecto, “O Divã Ocidental-Oriental”, a uma
coletânea de poemas de Goethe, que foi um dos primeiros europeus a
interessar-se verdadeiramente por outras culturas. Descobriu o Islão quando um
soldado alemão que tinha combatido numa das campanhas espanholas trouxe consigo
uma página do Corão para lhe mostrar. O
seu entusiasmo foi tão grande que começou a aprender árabe aos sessenta anos de
idade. Mais tarde descobriria o grande poeta persa Hafiz e foi ele a inspiração
para a sua colectânea de poemas que têm por tema a ideia do outro, o Divã
Ocidental-Oriental, publicado pela primeira vez há quase duzentos anos, em 1819. (…) Os
poemas de Goethe tornaram-se um símbolo da ideia subjacente à nossa experiência
de juntar músicos árabes e israelitas. Essa experiência teve início em 1999 em
Weimar, o que reforça ainda mais a justeza de dar à orquestra o nome da
colectânea de poemas de Goethe.»
Em 2000, a
Staatskappelle Berlin nomeou Barenboim Maestro Principal para a Vida.
Entretanto, vários músicos desta instituição musical alemã colaboram, na
qualidade de professores, na West-Eastern Divan Orchestra desde a sua fundação.
É na orquestra,
que alguns israelitas se encontram com árabes, pela primeira vez nas suas
vidas. E vice-versa. Quando um sírio, por exemplo, entra para a orquestra, ele
pode ter a sensação de estar diante do “inimigo”, quando se depara com um
israelita.
«No início, ele talvez o veja como um
monstro, mas quando começam a fazer música juntos, passam a ver o “inimigo” de
outra forma. Seis ou sete horas de ensaio conjunto contribuem para que se
adquirem experiências, objectivos e sentimentos comuns. E acima de tudo,
respeito pelo outro.», explica Barenboim.
É claro que, em relação às
questões políticas, continua a haver divergências. No entanto, para muitos
músicos, o trabalho na orquestra é um dos pontos de referência nas suas vidas.
E não são raras as amizades que surgem ali dentro, sendo que muitas delas
provavelmente jamais seriam seladas sem a orquestra. A coragem dos jovens
músicos é também digna de admiração. «Muitos
deles não
são bem vistos nos seus países de origem. Em alguns casos, há até mesmo risco de vida, porque eles são vistos como pessoas que fazem música ao
lado do que se chama o “inimigo”», conta o regente.
Em 2002, Daniel
Barenboim e Edward Said foram galardoados com o Prémio Príncipe das Astúrias,
na cidade espanhola de Oviedo, pelos seus esforços em prol da paz no
Médio-Oriente. Em Novembro do mesmo ano, Daniel Barenboim foi agraciado com o
Prémio da Wolf Foundation’s Arts, no Knesset de Jerusalém, e em 2009 com a
Medalha Moses Mendelssonh, pela sua contribuição para a Paz e Tolerância no
Mundo. O maestro apoia vários projetos de música e educação, tanto em Israel,
como na Palestina.
Em Ramallah, o
Barenboim/Said Music Center coordena projetos de ensino de música, com
capacidade para escritórios, salas de aula, e 10 a 15 professores a tempo inteiro.
"The Ramallah Concert - Knowledge is the Beginning"
West – Eastern Divan Orchestra,
sob a direção de Daniel
Barenboim, no Alhambra, Granada.
Giovani Bottesini, Fantasia com
temas de Rossini
Kyril Zlotnikov, violoncelo
Nabil Shehata, contrabaixo
Este artigo foi-me enviado pela minha querida amiga
Sónia Craveiro,
a quem agradeço desde já, o trabalho e carinho que gastou na elaboração do mesmo, mas acima de tudo pela enorme riqueza desta partilha.
Fontes:
BARENBOIM,
Daniel, Está
tudo ligado/ O Poder da Música,
Bizâncio;
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