quinta-feira, 17 de maio de 2012

Rabi DovBer - O Maguid de Mezeritch



O “Viajante”
Pouco se sabe sobre os primeiros anos da vida de Rabi Dovber, que ficou conhecido como o Maguid de Mezeritch.

Até a data exata de seu nascimento é desconhecida, mas aparentemente ele nasceu ao final do século dezassete, mais ou menos na mesma época do Báal Shem Tov. 

Seus pais (Abraham e Chavah) traçaram sua ascendência à casa real do Rei David. Conta-se que quando Rabi Dovber tinha cinco anos, sua casa foi destruída pelo fogo. Sua mãe contemplou as ruínas fumegantes e começou a chorar. “Não é pela casa que estou chorando” – explicou ela ao filho – “mas pelos registos de nossa árvore genealógica que foram queimados.”





“Então comece uma nova linhagem a partir de mim,” 
 respondeu a criança.






Estas palavras descreveram exatamente o papel que ele desempenharia mais tarde; pois o menino estava destinado a se tornar o sucessor do Báal Shem Tov.
Todo este tempo foi devotado ao estudo de Torá e ele foi reconhecido como um notável erudito talmúdico. Como era comum entre os eruditos de Torá naqueles tempos, Rabi Dovber mergulhou nos importantes tratados éticos da era medieval e nos tratados da Cabalá Luriânica. 






A partir destes ele adotou suas prescrições de jejuns estritos e mortificações. Leva uma vida simples de grande pobreza, por opção e não por necessidade, pois está registrado que recusou-se a aceitar numerosos convites para se tornar rabino e líder espiritual de comunidades importantes.
Um história popular sobre ele relata este fato. Depois que o Maguid se tornara seu discípulo, o Báal Shem Tov pediu a um seguidor, que deveria passar por Mezeritch, para transmitir suas lembranças. O mensageiro teve grande dificuldade para encontrar a casa pequena e negligenciada do Maguid. Entrando na pobre morada do Rabi, o visitante encontrou-o sentado num bloco de madeira. À sua frente estavam seus alunos, sentados em pranchas de madeira apoiadas por blocos semelhantes ao outro. A única outra mobília no aposento era uma mesa de madeira.



Como o Maguid estava no meio da aula, o visitante concordou em voltar mais tarde. Quando o fez, encontrou a cena mudada. Os alunos tinham ido embora; a “mesa” fora convertida numa “cama”; o Maguid ainda estava sentado no bloco de madeira, estudando sozinho. O visitante não pôde conter seu assombro pelas condições em que vivia o grande Rabino. “Estou longe de ser rico” – disse ele – “mas em minha casa você encontrará uma cadeira, um banco, uma cama e outras coisas indispensáveis.” “Em casa” – respondeu o convidado, 


a pessoa de fato precisa de uma cadeira, uma cama, uma mesa e uma lâmpada. Mas numa viagem as coisas são diferentes.”



Para o Maguid sua casa terrena não era seu “lar”. Aqui na terra ele era apenas um viajante e, como tal, somente aqueles valores que levam o viajante ao seu destino definitivo tinham verdadeira e duradoura importância.
O Maguid tinha um problema no pé esquerdo e constituição fraca. Sua vida ascética agravava sua condição. Sua saúde fraca, no entanto, foi uma das causas para seu primeiro encontro com o Báal Shem Tov. Relata-se que seu mestre, o famoso autor do Pnei Yehoshua, esforçou-se para persuadi-lo a visitar o Báal Shem Tov para buscar uma cura para suas doenças.
Estranhos são os caminhos da Providência que culminaram com os primeiros encontros entre o Báal Shem Tov e alguns de seus principais discípulos. Muitos deles eram afastados do Chassidismo em pensamento e prática e mesmo assim, após uma oposição inicial, se tornaram pilares do Movimento. O primeiro encontro entre o Báal Shem Tov e o Maguid foi singularmente interessante. Ocorreu em 5513 ou no início de 5514 (1753); menos de oito anos antes da morte do Báal Shem Tov.

Encontro com o Besht

Os dois Sábios (o Báal Shem Tov e o Maguid) trocaram cartas durante 5513 (1752). O Maguid tinha sérias dúvidas sobre empreender a viagem; os boatos caluniosos espalhados pelos inimigos do Chassidismo o impediam de dar aquele passo. O Báal Shem Tov, em suas respostas, amenizava as suspeitas e hesitações do Maguid, insistindo para que fosse, antevendo que o encontro teria grande importância para o Chassidismo. O Maguid finalmente resolveu ver por si mesmo se o Báal Shem Tov era tão notável como seus seguidores o consideravam.
A viagem até Mezibush foi longa e exaustiva, e o Maguid foi incapaz de estudar. Isso lhe causou muita angústia e ele começou a se arrepender da sua decisão. Consolou-se pensando que quando chegasse ao destino, certamente ouviria profundas palavras de Torá ditas pelo Báal Shem Tov. Quando seu coche finalmente chegou a Mezibush, ele não perdeu tempo em procurar o Besht.

Sinagoga de Rabi Israel Báal Shem Tov, em Mezibush - Ucrânia.


Rabi Israel Báal Shem Tov recebeu cordialmente o visitante e contou-lhe uma história curta, aparentemente insignificante. A entrevista terminou. Eles se encontraram novamente no segundo dia e mais uma vez o Báal Shem Tov contou uma breve história.
Rabi Dovber, do tipo assíduo, para quem cada momento era precioso, arrependeu-se de ter ido até lá, desperdiçando tanto tempo. Fez planos de voltar para casa; partiria na mesma noite, assim que a luz da lua permitisse iniciar a viagem. Porém antes que pudesse partir, chegou uma mensagem do Báal Shem Tov pedindo-lhe que fosse até a casa do mestre. Ali chegando, o Báal Shem Tov lhe perguntou: Você é bem versado em Torá?” Recebendo uma resposta afirmativa, o Báal Shem Tov indagou: “Está familiarizado com os ensinamentos da Cabalá?” Novamente, uma resposta afirmativa. O Báal Shem Tov então pediu ao Maguid para interpretar uma passagem em Etz Chaim, a obra fundamental da Cabalá Luriânica. Rabi Dovber examinou cuidadosamente a passagem e ofereceu sua interpretação. O Báal Shem Tov rejeitou suas palavras. Rabi Dovber deliberou outra vez e reiterou sua declaração anterior, acrescentando: “O significado desta passagem é aquele que declarei. Se tiver uma interpretação diferente, diga-me e veremos quem está certo.”
A esta altura o Báal Shem Tov lei a passagem para ele. Enquanto o Báal Shem Tov lia, pareceu ao Maguid que a casa tinha se tornado cheia de luz, e que um fogo Divino os rodeava. Para o Maguid, era como se ele realmente visse os anjos cujos nomes foram mencionados no discurso. Em seguida, o Báal Shem Tov disse:


“Sua interpretação está correta, mas não existe alma no seu estudo.”


Rabi Dovber permaneceu com o Báal Shem Tov durante algum tempo, para aprender com ele. Relatos demonstram que o Maguid visitou o Báal Shem Tov somente duas vezes. A segunda vez ele permaneceu por seis meses. Rabi Dovber relatou que o Báal Shem Tov ensinou-lhe até os detalhes mais intrincados das diversas obras da Cabala e a “linguagem dos pássaros e das árvores”.
Quando quis voltar para casa, o Báal Shem Tov não concordou, e retardou-o por diversas vezes. Ao lhe perguntarem o motivo, o Besht explicou que quando o maguid estava com ele, sua mente era como um “poço transbordante, e quanto mais se tira de um poço, mais a água brota.”
Embora Rabi Dovber não tenha visto o Báal Shem Tov outra vez, eles permaneceram em contato através de mensagens e correspondência. De tempos em tempos, Rabi Dovber serviu como líder interino dos Chassidim, na ausência do Báal Shem Tov, a pedido deste.
Embora de forma geral o Chassidismo se oponha à auto-mortificação, o Maguid parece ter continuado por algum tempo com seus hábitos primitivos. O Báal Shem Tov advertiu-o a abandonar esta prática e a cuidar da sua saúde.

Escolhido como Maguid

Durante o período entre seu primeiro encontro com o Báal Shem Tov e sua ascensão como líder dos Chassidim, Rabi Dovber foi apontado Maguid (pregador, mentor) das comunidades de Mezeritch e Koritz.
O ano 5520 (1760) viu o falecimento do Rabi Israel Báal Shem Tov. Seu filho Rabi Zvi assumiu a liderança dos Chassidim e permaneceu neste cargo durante um ano, No dia seguinte ao aniversário de falecimento (yahrtzeit), Rabi Zvi dirigiu-se aos Chassidim reunidos e ao concluir seu discurso, declarou: “Hoje, meu pai veio me ver e disse-me que a Corte celestial decidiu que devo passar a liderança a Rabi Dovber.” Todos os presentes se levantaram em sinal de respeito e permaneceram de pé para ouvir o primeiro discurso de Rabi Dovber.


O centro chassídico agora mudava-se de Mezibush para Mezeritch. Rabi Dovber permaneceria como líder dos Chassidim pelos próximos doze anos, e sob sua liderança o Chassidismo lançou raízes mais amplas e profundas. As sementes plantadas em Mezibush cresceram em Meseritch. Assistido por um grupo excepcional de seguidores, composto das mentes e espíritos mais notáveis da época, Rabi Dovber exteriorizou as ideias e ensinamentos fundamentais do Báal Shem Tov e a partir deles formou um sistema abrangente.


Dentro de três meses do início da liderança do Maguid um novo espírito tinha sido infundido no Chassidismo. Em toda a Polónia e Lituânia, cresciam as fileiras de Chassidim. Os centros já estabelecidos em Volhynia e Podolia fizeram sua influência ser sentida ainda mais fortemente que antes, e Meseritch era cenário de constante atividade.
O Maguid foi uma força estabilizadora para seus seguidores, dirigindo suas energias para alcançarem a combinação ideal de empolgação emocional e restrição intelectual no serviço a D’us. Como fizera o Báal Shem Tov antes dele, o Maguid pregava que o amor pelo próximo judeu (Ahavat Yisrael) é a chave do verdadeiro amor a D’us.. “O significado de Ahavat Yisrael” – declarava o Maguid – “é amar o pior pecador da mesma maneira que o justo.”
Ele infundiu este princípio de amor entre seus seguidores, e moldou-o num fator principal na doutrina chassídica. Um de seus discípulos mais chegados, Rabi Levi Yitschac de Berditchev, dirigia-se a todos chamando-os de “meu coração”.
No outono de 5533 (1772) Rabi Dovber ficou acamado. A 18 de Kislêv, convocou os membros da “Sociedade Sagrada” e disse a eles:

“Meus filhos, fiquem sempre juntos e superarão qualquer coisa. Vocês irão sempre para a frente e não para trás.”


Falecimento
Na terça-feira 19 de Kislêv (1772).

Rabi Dovber, o grande Maguid de Mezeritch, devolveu sua alma ao Céu. Assim terminava uma era. Sua missão estava cumprida. Uma nova linha tinha apenas começado, mas firmemente estabelecida sobre um alicerce sólido.

Zabludow, Poland, 1961, The grave of Rabbi Dov Ber in the Jewish cemetery



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