O “Viajante”
Pouco se sabe sobre os primeiros anos da vida de Rabi
Dovber, que ficou conhecido como o Maguid de Mezeritch.
Até a data exata de seu nascimento é desconhecida, mas
aparentemente ele nasceu ao final do século dezassete, mais ou menos na mesma
época do Báal Shem Tov.
Seus pais (Abraham e Chavah) traçaram sua ascendência à
casa real do Rei David. Conta-se que quando Rabi Dovber tinha cinco anos, sua
casa foi destruída pelo fogo. Sua mãe contemplou as ruínas fumegantes e começou
a chorar. “Não é pela casa que estou chorando” – explicou ela ao filho – “mas
pelos registos de nossa árvore genealógica que foram queimados.”
“Então comece uma nova linhagem a partir de mim,”
respondeu a criança.
Estas palavras descreveram exatamente o papel que ele desempenharia mais tarde;
pois o menino estava destinado a se tornar o sucessor do Báal Shem Tov.
Todo este tempo foi devotado ao estudo de Torá e ele
foi reconhecido como um notável erudito talmúdico. Como era comum entre os
eruditos de Torá naqueles tempos, Rabi Dovber mergulhou nos importantes
tratados éticos da era medieval e nos tratados da Cabalá Luriânica.
A partir destes ele adotou suas prescrições de jejuns estritos e mortificações. Leva uma vida simples de grande pobreza, por opção e não por necessidade, pois está registrado que recusou-se a aceitar numerosos convites para se tornar rabino e líder espiritual de comunidades importantes.
Como o Maguid estava no meio da aula, o visitante concordou em voltar
mais tarde. Quando o fez, encontrou a cena mudada. Os alunos tinham ido embora;
a “mesa” fora convertida numa “cama”; o Maguid ainda estava sentado no bloco de
madeira, estudando sozinho. O visitante não pôde conter seu assombro pelas
condições em que
vivia o grande Rabino. “Estou longe de ser rico” –
disse ele – “mas em minha casa você encontrará uma cadeira, um banco, uma cama
e outras coisas indispensáveis.”
“Em casa” – respondeu o convidado,
“a pessoa de fato precisa de uma cadeira,
uma cama, uma mesa e uma lâmpada. Mas numa viagem as coisas são diferentes.”
O Maguid tinha um problema no pé esquerdo e
constituição fraca. Sua vida ascética agravava sua condição. Sua saúde fraca,
no entanto, foi uma das causas para seu primeiro encontro com o Báal Shem Tov.
Relata-se que seu mestre, o famoso autor do Pnei Yehoshua, esforçou-se para
persuadi-lo a visitar o Báal Shem Tov para buscar uma cura para suas doenças.
Encontro com o Besht
Os dois Sábios (o Báal Shem Tov e o Maguid) trocaram
cartas durante 5513 (1752). O Maguid tinha sérias dúvidas sobre empreender a
viagem; os boatos caluniosos espalhados pelos inimigos do Chassidismo o
impediam de dar aquele passo. O Báal Shem Tov, em suas respostas, amenizava as
suspeitas e hesitações do Maguid, insistindo para que fosse, antevendo que o
encontro teria grande importância para o Chassidismo. O Maguid finalmente
resolveu ver por si mesmo se o Báal Shem Tov era tão notável como seus
seguidores o consideravam.
A viagem até Mezibush foi longa e exaustiva, e o
Maguid foi incapaz de estudar. Isso lhe causou muita angústia e ele começou a
se arrepender da sua decisão. Consolou-se pensando que quando chegasse ao
destino, certamente ouviria profundas palavras de Torá ditas pelo Báal Shem
Tov. Quando seu coche finalmente chegou a Mezibush, ele não perdeu tempo em
procurar o Besht.
Rabi Israel Báal Shem Tov recebeu cordialmente o
visitante e contou-lhe uma história curta, aparentemente insignificante. A
entrevista terminou. Eles se encontraram novamente no segundo dia e mais uma
vez o Báal Shem Tov contou uma breve história.
A esta altura o Báal Shem Tov lei a passagem para ele.
Enquanto o Báal Shem Tov lia, pareceu ao Maguid que a casa tinha se tornado
cheia de luz, e que um fogo Divino os rodeava. Para o Maguid, era como se ele
realmente visse os anjos cujos nomes foram mencionados no discurso. Em seguida,
o Báal Shem Tov disse:
“Sua interpretação está correta, mas não existe alma no
seu estudo.”
Rabi Dovber permaneceu com o Báal Shem Tov durante
algum tempo, para aprender com ele. Relatos demonstram que o Maguid visitou o
Báal Shem Tov somente duas vezes. A segunda vez ele permaneceu por seis meses.
Rabi Dovber relatou que o Báal Shem Tov ensinou-lhe até os detalhes mais
intrincados das diversas obras da Cabala e a “linguagem dos pássaros e das
árvores”.
Quando quis voltar para casa, o Báal Shem Tov não concordou, e retardou-o por diversas vezes. Ao lhe perguntarem o motivo, o Besht explicou que quando o maguid estava com ele, sua mente era como um “poço transbordante, e quanto mais se tira de um poço, mais a água brota.”
Quando quis voltar para casa, o Báal Shem Tov não concordou, e retardou-o por diversas vezes. Ao lhe perguntarem o motivo, o Besht explicou que quando o maguid estava com ele, sua mente era como um “poço transbordante, e quanto mais se tira de um poço, mais a água brota.”
Embora Rabi Dovber não tenha visto o Báal Shem Tov
outra vez, eles permaneceram em contato através de mensagens e correspondência.
De tempos em tempos, Rabi Dovber serviu como líder interino dos Chassidim, na ausência
do Báal Shem Tov, a pedido deste.
Embora de forma geral o Chassidismo se oponha à
auto-mortificação, o Maguid parece ter continuado por algum tempo com seus
hábitos primitivos. O Báal Shem Tov advertiu-o a abandonar esta prática e a
cuidar da sua saúde.
Escolhido como Maguid
Durante o período entre seu primeiro encontro com o
Báal Shem Tov e sua ascensão como líder dos Chassidim, Rabi Dovber foi apontado
Maguid (pregador, mentor) das comunidades de Mezeritch e Koritz.
O ano 5520 (1760) viu o falecimento do Rabi Israel
Báal Shem Tov. Seu filho Rabi Zvi assumiu a liderança dos Chassidim e
permaneceu neste cargo durante um ano, No dia seguinte ao aniversário de
falecimento (yahrtzeit), Rabi Zvi dirigiu-se aos Chassidim reunidos e ao
concluir seu discurso, declarou: “Hoje, meu pai veio me ver e disse-me que a
Corte celestial decidiu que devo passar a liderança a Rabi Dovber.” Todos os
presentes se levantaram em sinal de respeito e permaneceram de pé para ouvir o
primeiro discurso de Rabi Dovber.
O centro chassídico agora mudava-se de Mezibush para
Mezeritch. Rabi Dovber permaneceria como líder dos Chassidim pelos próximos
doze anos, e sob sua liderança o Chassidismo lançou raízes mais amplas e
profundas. As sementes plantadas em Mezibush cresceram em Meseritch. Assistido
por um grupo excepcional de seguidores, composto das mentes e espíritos mais
notáveis da época, Rabi Dovber exteriorizou as ideias e ensinamentos
fundamentais do Báal Shem Tov e a partir deles formou um sistema abrangente.
Dentro de três meses do início da liderança do Maguid
um novo espírito tinha sido infundido no Chassidismo. Em toda a Polónia e
Lituânia, cresciam as fileiras de Chassidim. Os centros já estabelecidos em
Volhynia e Podolia fizeram sua influência ser sentida ainda mais fortemente que
antes, e Meseritch era cenário de constante atividade.
O Maguid foi uma força estabilizadora para seus
seguidores, dirigindo suas energias para alcançarem a combinação ideal de
empolgação emocional e restrição intelectual no serviço a D’us. Como fizera o
Báal Shem Tov antes dele, o Maguid pregava que o amor pelo próximo judeu
(Ahavat Yisrael) é a chave do verdadeiro amor a D’us.. “O significado de Ahavat
Yisrael” – declarava o Maguid – “é amar o pior pecador da mesma maneira que o
justo.”
Ele infundiu este princípio de amor entre seus
seguidores, e moldou-o num fator principal na doutrina chassídica. Um de seus
discípulos mais chegados, Rabi Levi Yitschac de Berditchev, dirigia-se a todos
chamando-os de “meu coração”.
No outono de 5533 (1772) Rabi Dovber ficou acamado. A
18 de Kislêv, convocou os membros da “Sociedade Sagrada” e disse a eles:
“Meus
filhos, fiquem sempre juntos e superarão qualquer coisa. Vocês irão sempre para
a frente e não para trás.”
Falecimento
Na terça-feira 19 de Kislêv (1772).
Na terça-feira 19 de Kislêv (1772).
Rabi Dovber, o grande Maguid de Mezeritch, devolveu sua alma ao Céu. Assim
terminava uma era. Sua missão estava cumprida. Uma nova linha tinha apenas
começado, mas firmemente estabelecida sobre um alicerce sólido.
Zabludow, Poland, 1961, The grave of Rabbi Dov Ber in the Jewish cemetery
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