Korach
Todos nós sabemos as implicações
de ter um peixe fora da água. Mas o que dizer de um peixe dentro de água?
Esta questão é de fato sujeito de um debate talmúdico no
contexto referente às leis de imersão na Mikvá.
De acordo com a Lei Judaica, nada pode separar ou
interpor-se entre o indivíduo ou objecto que está a ser imerso e o corpo de água
onde está a ser imerso.
E os peixes?
Em Junho de 1941, o Lubavitcher Rebe estava em Lisboa. Um
dia antes de embarcar no Serpa Pinto a caminho de Nova Iorque, o Rebe abordou
este assunto.
Enquanto é certo que os peixes são uma parte muito
importante da vida em Portugal, o Rebe estava neste caso a abordar um tema
central no judaísmo - a vinda de Moshiach.
Se é certo que a vinda de Mashiach inaugura uma era de paz
e prosperidade, a descrição do Talmude dos momentos anteriores à sua chagada,
pinta um retrato de um mundo em caos.
"O filho de David (Mashiach) só virá, quando se
procurar peixe para uma pessoa doente e nenhum for encontrado" (Talmude
Sinédrio)
Em vez de abundância e felicidade, descreve-se um mundo de
escassez e desafios. Como pode ser isso?
O Rebe, ao escrever em Lisboa, examina esta passagem
talmúdica, à luz do pensamento chassídico e dos seus ensinamentos. O que emerge
não é uma descrição de uma sociedade em colapso, mas uma de ambição espiritual
e de beleza.
Um peixe submerso em água é um peixe conectado com a sua
fonte de vida e vitalidade. Isto é de acordo com a Cabala o objectivo do ser
humano, estar conectado com D-us, e completamente envolto por espiritualidade.
É aí que o debate talmúdico anterior entra em jogo. Um
peixe na água é considerado como uma entidade separada, em cujo caso
invalidaria uma imersão por limitar o alcance da água, ou não?
O Rabino Shimon ben Gamliel, diz que não. Um peixe na água
é realmente uma parte integrante da existência marítima e não pode portanto criar
uma separação que invalide a imersão.
No que respeita ao "peixe humano" a ambição de
ser completamente conectado com D-us e absorvido em Sua aura, é exactamente o
mesmo, a meta é a de estar completamente conectado com D-us.
No entanto, diz o Rebe, a Halacha, a decisão prática tomada
de acordo com a Lei Judaica, é que os peixes não são completamente uma parte do
mar e podem, portanto, invalidar a imersão.
Isto diz o Rebe, é o significado da declaração talmúdica na
sua essência. "A procura de peixe" é uma alusão ao nosso desejo de
ser completamente um com o nosso Criador. No entanto, "nenhum será
encontrado", ou seja na era pré-Mashiach não é completamente possível
ser-se totalmente espiritual.
No entanto, o estar incompleto, a incapacidade de
completamente nos unirmos com D-us, é de acordo com a abordagem do Rebe, uma
referência a um mundo que está quase nessa fase.
Não é um mundo a escorregar para o caos mas sim um mundo à
beira de grandeza. No limiar de cumprir o sonho da humanidade e criar um mundo
perfeito, onde estar em sincronia total com D-us, já não é só a nossa ambição
mas sim a nossa realidade.
Shabat Shalom!
* Este Shabat, o Terceiro de Tamuz marca o vigésimo
primeiro Yahrtzeit, - aniversário de falecimento - do Rebe. A vida e os
ensinamentos do Rebe estão repletos do anseio e da esperança pela vinda de
Mashiach. Que possamos merecer a sua chegada imediatamente.
Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com
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