quinta-feira, 31 de março de 2016

31 de Março de 1821.



Extinção da Inquisição em 
Portugal



Cortes portuguesas (1822)



Cada vez menos temida e inoperante, a Inquisição foi formalmente extinta em Portugal no dia 31 de Março de 1821, nas Cortes Gerais.


Após uma primeira tentativa de D. Manuel I, em 1531 (Clemente VII concedeu-a e no ano seguinte anulou a decisão), a Inquisição chegou mesmo Portugal no dia 23 de Maio de 1536, com D. João III, no tempo do Papa Paulo III, por influência de Carlos V de Habsburgo.


É corrente entre os historiadores afirmar que é aqui que começa a decadência das nações ibéricas, embora a Espanha ainda tivesse um século de oiro pela frente. Parece que sim, não só por causa da expulsão dos judeus, que foram alimentar o dinamismo dos Países Baixos e depois das Américas, e dos muçulmanos, mas também pelo fecho de mentalidades que isso significou e pela promoção da desconfiança e da delacção. A inveja e o medo deram-se bem à sombra do tribunal religioso-político da Inquisição.


O projecto de abolição da Inquisição esteve a cargo do matemático e professor Francisco Simões Margiochi (1774-1838), que expôs assim o assunto (excerto do que disse nas cortes, na sessão de 24 de Março de 1821):



“Era licito a toda pessoa, por mais perversa que fosse, ser denunciante, ou accusador. Toda a pessoa por mais virtuosa que fosse, era subjeita a estas accusações: nem o sexo eximia, nem a idade. As accusações erão recebidas apezar da incoherencia das testemunhas: nada importava que huma testemunha allegasse hum facto acontecido em Coimbra, e outra o mesmo facto acontecido em Lisboa, não se achava incoherencia. Nada importava que se asseverasse que o facto tinha passado hum anno, ou dez annos depois. Parece que se não queria senão ter victimas para atormentar. Admittida a accusação, procedia-se logo á prisão desculpadas, ou dos reos. Hia-se a sua casa; todas as Justiças, toda a força armada era obrigada a executar as ordens da Inquisição: era o preso transportado para as prisões da Inquisição, toda a sua familia era posta fora da casa, a casa ficava trancada, e a familia abandonada á sua sorte. Transportado o preso ás prisões da Inquisição, entrada em huma habitação muito pequena inteiramente escurecida, em hum espaço muitas vezes menor do que aquelle em que se põe os mortos. Alli passava mezes, e annos sem ser perguntado, sem chegar ás mesas dos inquisidores. Quando era perguntado não da para se oppôr á sua accusação, era para addivinhar quem tinhão sido os seus accusadores. Se depois de denunciar por accusadores seus filhos, ou seus pays, seus collegas, seus parentes, todos os seus amigos, seus conhecidos, todas as pessoas do mundo de quem sabia os nomes, assim mesmo não acertava com seus accusadores, em submettido aos tormentos. Estes tormentos erão polés, cavalletes, fenos em braza, e outras cousas que a Arte descreve, e sabe imaginar. Assistião a estes tormentos os Deputados da Inquisição, assistião Facultativos para ver se os desmayos que os atormentados mostravão, erão verdadeiros, ou fingidos: quando lhes parecião verdadeiros davão-lhes confortos para torna-los ávida, por medo de que escapassem as victimas. Quando de pois destes tormentos elles não acertavão senão com parte de seus accusadores, erão classificados de diminutos. Quando acertavão com todos seus accusadores, erão simplesmente condemnados (simplesmente) a gales, e a degredos para presídios. Quando acertavão com parte só, já disse, que erão olhados como diminutos, e sómente erão condemnados a garrote, e depois a serem queimados, e depois a serem suas cinzas deitadas ao Tejo, ou aos males. Ora quando absolutamente não addivinha vão seus accusadores, erão julgados impenitentes, e erão queimados vivos, e suas cinzas espalhadas como disse. Depois destas Sentenças proferidas, entregavão os seus processos ás Relações, aos Tribunaes Civis, e estes, sem exame nenhum, as manda vão executar. A' execução disto chamavão ao Auto da Fé.”



Fonte:


terça-feira, 22 de março de 2016

A Festa de Púrim





Purim Sameach!


Pintura da Rainha Ester por Francois Leon Benouville




Purim (פּוּרִים, plural de פּוּר pûr, "sorteio" em hebraico, do acadiano pūru) é uma festa judaica que comemora a salvação dos judeus persas do plano de Hamã para exterminá-los no antigo Império Aqueménida tal como está escrito no Livro de Ester, um dos livros do Tanach. 




Os judeus estavam exilados na Babilónia, desde a destruição do Templo de Salomão pelos babilónios e da dispersão do Reino de Judá. A Babilónia, por sua vez foi conquistada pela Pérsia. 


O nome "Purim" vem da palavra hebraica "pur", que significa "sorteio". Este era o método usado por Haman, o primeiro-ministro do Rei Achashverosh da Pérsia, para escolher a data na qual ele pretendia massacrar os judeus do país.


Os eventos que levaram ao Purim foram registados na Meguilat Ester (Livro de Ester), que se tornou um dos 24 livros do Tanach para ser canonizado pelos Sábios da Grande Assembleia. O Livro de Ester regista uma série de eventos aparentemente não relacionados que aconteceram num período de mais de nove anos durante o reinado do Rei Assuero. Esses eventos coincidentes, quando vistos juntos, devem ser vistos como evidência de intervenção divina, de acordo com interpretações em comentários Talmúdicos e outros sobre a Meguilá.



Meguilat Ester


Purim é celebrado, anualmente, no 14º dia do mês de Adar, que é o décimo segundo mês (nalguns anos, também o décimo terceiro mês) do calendário judaico, e que assinala o dia seguinte à vitória dos judeus sobre os seus inimigos (ocorrido no 13º dia do mês de Adar, que foi o dia escolhido, por Haman para a destruição de todos os judeus do Império Persa). Nas cidades que eram muradas, no tempo de Josué, incluindo Susa e Jerusalém, Purim é celebrado no 15º dia de Adar, conhecido como Purim Shushan. Tal como em todas as festas judaicas o Purim tem início no pôr-do-sol da véspera do dia do calendário comum.




Pintura do banquete de Ester por Jan Victors


A festa de Purim é caracterizada pela recitação pública do Livro de Ester por duas vezes, distribuição de comida e dinheiro aos pobres, presentes e consumo de vinho durante refeição da celebração (Ester 9:22); outros costumes incluem o uso de máscaras, fantasias e comemoração pública.



Pintura de Elena Flerova


Assim como Chanucá, Purim tem um caráter mais nacional que religioso, e o seu status como feriado tem um nível inferior aos feriados sagrados na Torá. Por este motivo as transações comerciais e o mesmo trabalho manual são permitidos em Purim, apesar que em certos lugares foram impostas restrições sobre o trabalho (Shulchan Aruch, Orach Chaim, 696).


Uma prece especial ("Al ha-Nissim"—"Pelos Milagres") é inserida na Amidá durante o serviço da noite, manhã e tarde, assim como é incluída no Birkat Hamazon ("Bênção após as Refeições").



Pintura de Esther e Mordechai escrevendo a primeira carta 
do Purim por Aert de Gelder


As quatro principais mitzvot do dia são:


1. Ouvir à leitura pública, geralmente na sinagoga, do Livro de Ester de noite e novamente na manhã seguinte (kriat meguilá)

2. Mandar presentes de comida para amigos (mishloach manot)

3. Dar caridade aos pobres (matanot le'evionim)

4. Comer uma refeição festiva (seudá)


Deixo-vos com um vídeo da celebração do Purim em Tel Aviv no ano de 1932




Enviado por Rabbi Jules Harlow



Fontes:

By Nick Taylor - originally posted to Flickr as Tomb of Esther and Mordechai, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4583391
http://www.chiourim.com/f%C3%AAtes/pourim