SHEMA YISRAEL
“OUVE, ISRAEL”
Maimónides, Mishneh Torah, copiado em Espanha c. 1300-1350, ilustrado em Perugia c. 1400, Biblioteca Nacional de Israel, Jerusalém. Página inicial do “Livro do Amor” (por Deus) – Sefer Ahavah. No topo da página um homem abraça um rolo da Torah; na margem inferior, um outro homem recita o Shema antes de se deitar.
Shema Yisrael, «Ouve, Israel», é central na fé judaica. No Judaísmo nós acreditamos que Deus é ouvido, mas nunca visto. Os primeiros humanos, Adão e Eva, ouviram a voz do Eterno mover-se no jardim com a brisa do dia. Abraão, Moisés e os profetas da Bíblia Hebraica, diferenciaram-se dos seus contemporâneos porque ouviam uma voz que para os outros era inaudível. Quando Elias enfrenta os profetas de Baal no Monte Carmelo, Deus ensina-lhe que não é nem um vento forte, nem fogo, nem um terramoto, mas uma «voz mansa e delicada» (I Reis 19:9-12)
A um nível muito básico, Shema representa um aspecto do Judaísmo que era radical nos tempos bíblicos: Deus não pode ser visto. Deus só pode ser ouvido. Moisés adverte insistentemente o povo de Israel para não venerar ou adorar nenhuma representação física do Divino; no Monte Sinai lembra que: «O Eterno vos falou do meio do fogo; som de palavras vós ouvistes, porém não vistes imagem alguma: ouvistes apenas uma voz.» (Deut. 4:12)
Shema Yisrael! Adonai Eloheinu! Adonai Echad!
Ouve, Israel! O Eterno é o nosso Deus! O Eterno é Um!
(Deuteronómio 6:4)
Shema
(pronuncia-se Shemá) é uma palavra-chave do livro de Deuteronómio, onde aparece
92 vezes. Hoje quando falamos no Shema, referimo-nos ao verso 6:4-9 do
Deuteronómio e a outros três parágrafos (dois do Deuteronómio11: 13-21 e um de
Números 15:37-41). Seguindo o
mandamento de dizer Shema «ao deitar e ao levantar», o Shema faz parte das
orações da noite (Arvit) e da manhã (Shacharit).
O significado de Shema
Shema ou Sh’ma, de difícil tradução, se
não mesmo intraduzível, tem vários significados como, ouvir, escutar, prestar
atenção, compreender ou interiorizar; pode até ter um significado aproximado de
«obedecer», como quando se responde afirmativamente a uma interpelação. Contudo
o termo «obedecer» não consta do hebraico bíblico, o que é extraordinário numa
religião de 613 mandamentos. No hebraico moderno «obedecer» diz-se letzayet,
uma palavra emprestada do aramaico.
Ouve, Israel! O Eterno é o nosso
Deus! O Eterno é Um!
E amarás o Eterno, teu Deus, com
todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E estarão,
permanentemente, no teu coração estas palavras que hoje te recomendo. (Deut.
6:4-6)
Ouvir,
no Judaísmo é uma tarefa sagrada. Deus quer que ouçamos, não apenas com os
ouvidos, mas com os recursos mais profundos da nossa mente. Se Deus procurasse
simples obediência, teria criado robots em vez de seres humanos com vontade
própria. Mas ouvir, ouvir realmente, pode ser uma tarefa incrivelmente difícil.
Aprender a ouvir requer treino, concentração e a capacidade de criar silêncio
na alma. Ver mostra-nos a beleza do mundo, mas ouvir dá-nos a oportunidade de
criarmos pontes com a alma do outro.
Tecnicamente, recitar o Shema não é um
acto de oração. É fundamentalmente um outro tipo de acto: é um acto de Talmude
Torah, de aprender Torah. Na oração nós dirigimo-nos a Deus. Quando estudamos
Torah, ouvimos Deus. Deus quando fala connosco, chama por nós, convoca-nos para
a nossa tarefa no mundo.
QUANDO JESUS DISSE O SHEMA
Rembrandt, Cabeça de Cristo,
1640, Gemäldegalerie, Berlim
«Não penseis que Eu vim abolir a Lei e os
Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento.» (Mateus 5:17)
Em
Mateus 22:36-40, Marcos 12:28-34 e Lucas 10:25-28, Jesus, quando inquirido
acerca do primeiro mandamento da Lei, recita o Shema.
-Um
doutor da Lei que ali estava ouviu a discussão. Vendo que Jesus tinha
respondido bem, aproximou-se d’Ele e perguntou: «Qual é o primeiro de todos os
mandamentos?» Jesus respondeu: «O primeiro mandamento é este: Ouve, ó Israel! O
Senhor nosso Deus é o único Senhor! E amarás o Senhor teu Deus com todo o teu
coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas
forças. O segundo mandamento é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não
existe mandamento mais importante do que estes dois».
O doutor da Lei disse a Jesus: «Muito bem,
Mestre! Como disseste, Ele é, na verdade, o único Deus, e não existe outro além
d’Ele. E amá-Lo com todo o coração, com toda a mente e com todas as forças, e
amar o próximo como a si mesmo é melhor que todos os holocaustos e do que todos
os sacrifícios». (Marcos 12:28-34)
Mais um artigo da
nossa,
Sónia Craveiro
Muito obrigada
Fontes:
The Mishneh Torah,
Maimonides
http://gizra.github.io/CDL/pages/D426D901-F0FB-99E7-6E57-289CFFFBDD64/
Torá, A Lei de Moisés, Editora e Livraria Sêfer
Ltda, 2001, Brasil
Bíblia Hebraica, Editora e Livraria Sêfer Ltda,
2006, Brasil
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, 1993, PAULUS
Editora, Portugal
The Art of Listening
https://www.ou.org/torah/parsha/rabbi-sacks-on-parsha/the-art-of-listening/
Listen, Really Listen
http://rabbisacks.org/listen-really-listen-eikev-5778/
Elijah and the prophetic
truth of the ‘still, small voice’
http://rabbisacks.org/elijah-prophetic-truth-still-small-voice/
https://www.youtube.com/watch?v=82JbnMWKtS