Gueto de Veneza (1516)
Praça principal do gueto de Veneza.
A 7 de Iyar de 1516, o Conselho da Cidade de Veneza
decretou que todos os judeus fossem segregados numa área específica da cidade.
O Gueto de Veneza era cercado pela água, com um canal levando aos seus portões.
À noite os “guardas cristãos” patrulhavam as águas ao redor do gueto para
garantir que o toque de recolher nocturno não estava sendo violado. Na mesma
época da criação deste gueto, numerosas outras leis degradantes foram
decretadas, incluindo a exigência de que todos os judeus portassem estrelas
amarelas como identificação.
Apesar de todas essas restrições, a comunidade judaica
prosperou e funcionava normalmente. Em 1797, o gueto foi abolido por Napoleão
durante a Revolução Francesa.
O local escolhido para acomodar os judeus certa vez tinha
abrigado as fundições, gettos em italiano – e assim a palavra “gueto” se
popularizou em toda a Europa para descrever as partes da cidade onde os judeus
eram forçados a residir.
Os judeus em
Veneza
Do Campo San Polo (no bairro do mesmo nome) para
Cannnaregio, um dos sestieri, menos concorridos por turistas, recorremos pois à
sola dos sapatos, com o fim de penetrarmos em mais um pouco da história
veneziana, depois de recordarmos outra obra, esta nada policial, mas acesamente
polémica e poética: “O Mercador de Veneza”, do Grande Shakespeare.
O Ghetto é a zona de Veneza na qual numerosos judeus, desde
1516 a 1797, viviam confinados, do nascer ao pôr-do-sol, guardados por portões
e guardas vigilantes. Seria aqui, neste primeiro Ghetto do mundo (a palavra
veneziana “ghetto” provém de uma ilha onde existia uma fundição que fabricava
peças para a artilharia da cidade de Veneza, o nome foi depois dado a todos os
enclaves judeus em todo o mundo) que viveria Skylock, o “nosso” mercador de
Veneza.
Aos judeus era permitido construir casas mais altas do que
no resto da cidade, para que daquela zona não saíssem, bem entendido, por isso
esta é a zona da cidade na qual os edifícios chegam a ter oito andares, apesar
de termos contado apenas o máximo de sete.
Os judeus não podiam adquirir terra fora dos guetos
portanto, durante períodos de crescimento populacional, os guetos ficavam
estreitos, altos e as casas super populadas. Residentes tinham o seu sistema de
justiça. À volta do gueto havia por vezes muros e durante pogroms eram fechados
desde o interior ou desde o exterior durante o Natal e Páscoa. Frequentemente,
os residentes do gueto tinham de ter um passe para se poderem dirigir a sítios
fora do gueto.
O termo gueto vem do Gueto de Veneza do século XIV. Antes
da designação desta parte da cidade para os judeus, era uma fundição de ferro
(gueto), e daí o nome. Outras etimologias sugeridas para a palavra incluem a
palavra grega Ghetonia (Γειτονία, vizinhança), a italiana borghetto para
"pequena vizinhança" ou a palavra hebraica get, literalmente
"nota de divórcio."
A partir do exemplo do gueto de Veneza, o nome foi usado
para vizinhanças judaicas. Em Castela, em Maiorca e em Portugal eram chamadas
de "Judiarias". Curiosamente, o quarteirão judaico de Veneza era uma
zona rica da cidade, habitada por mercadores e emprestadores de dinheiro.
Shylock, o
“judeu” de Veneza, foi o primeiro
Banqueiro que
conhecemos
Hoje em dia, muitas famílias judaicas ainda vivem na zona,
procedendo orgulhosamente a visitas guiadas pelas sinagogas ainda existentes e
no Museu hebraico.
Também o Holocaust
Memorial ali está para evocar as atrocidades cometidas pelos nazis contra
os judeus.
Fosse porque as memórias eram dolorosas, ou porque a Dama
queria mostrar o seu lado mais cinzento, o certo é que a partir do Ghetto Novo,
o céu se pintou de negro, e a borrasca caiu-nos literalmente em cima.
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