sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Parashat Bereshit - Inveja de Irmão



"Cain disse a seu irmão Hevel, e quando estavam no campo, Cain levantou-se contra seu irmão Hevel e matou-o".
 
Pintura de: D’Anastasio Michel  “Bereshit”
 
Ao ler este versículo, surge uma dúvida imediata. A Torá escreve que "Cain disse a Hevel" - então parece haver uma lacuna bem evidente, uma pausa que nos intriga, porque a Torá não informa o que Cain falou.
Toda a congregação está sentada ouvindo atentamente a leitura da Torá, esperando pelo momento do clímax, quando ouvirão o que Cain tem a dizer, e então, como se uma linha inteira tivesse sido apagada, a narrativa salta para nos dizer que ele matou o irmão! Mas o que aconteceu? O que conversaram os dois que fez Cain reagir tão drasticamente?
O Targum Yonatan menciona esta dúvida relatando uma discussão fascinante que ocorreu entre os dois irmãos, a qual levou diretamente ao assassinato. Cain reclamou a Hevel que não havia justiça e um juiz supremo neste mundo; não há Mundo Vindouro, e por isso os justos não serão recompensados e os perversos jamais serão castigados. Hevel discordou, e como resultado desta discussão, Cain decide matar seu irmão.
Entretanto, mesmo após ouvir a explicação desta conversa, a passagem ainda permanece obscura. Se estavam realmente discordando sobre um assunto tão fundamental, não teria sido informativo se a Torá nos relatasse isso de maneira direta?
Foi sugerido que a Torá omitisse qualquer menção explícita do assunto da discussão porque, na verdade, é totalmente insignificante para o desenrolar da história. Cain não tinha o direito de tirar a vida de seu irmão, e ponto final, não importa o quanto ele justificasse suas ações.
 
Caim e Abel - Escultura em chumbo fundido. Largo dos Plátanos
 
 
O fato de que ele tivesse uma suposta desculpa para seu comportamento (tinham opiniões conflituantes) era irrelevante, porque qualquer que fosse seu arrazoado, este permaneceu meramente uma racionalização formulada pela mente humana, para se permitir a busca de seus próprios desejos básicos.
Na verdade, Cain estava com inveja porque a oferenda de Hevel fora aceita por D'us, enquanto que a sua não, por isso desejou matar o irmão. Ele tinha apenas um problema - sua consciência. Mas não poderia simplesmente destruir sua própria carne. Precisava de uma desculpa, uma racionalização para sentir-se melhor a respeito daquilo que estava para fazer.
Por esta razão, provocou uma discussão; descobriu que seu irmão discordara, e usou isto como uma desculpa para o assassinato. Entretanto, como era meramente uma desculpa, a Torá considerou-a irrelevante, e por isso preferiu omiti-la da narrativa.
Quantas vezes inventamos desculpas para justificar nossas ações - fabricando racionalizações que, se apenas usássemos o tempo para analisá-las, veríamos que são totalmente infundadas? Somos realmente honestos com nossos amigos, nossa família, com o Criador, e com nós próprios, ou simplesmente procuramos as melhores desculpas a fim de satisfazer nossa consciência?
Ao começarmos este novo ano, reforcemos nosso compromisso de buscar a verdade e estejamos conscientes das perigosas racionalizações que inevitavelmente impedirão nossa busca por uma vida boa e com moral.
 
Shalom!
 
Vamos recomeçar a leitura da nossa Torá que começa com a parashá Bereshit. Esta fala-nos do início, da criação.
Hoje eu escolhi a mensagem” Inveja de Irmão”, que é apenas uma das muitas mensagens desta parashá e não porque seja uma passagem bonita da nossa história, mas porque é aquela que continua a ser o motivo de tantas guerras e de tantas mortes nos dias de hoje, quer seja entre irmãos, entre amigos, vizinhos ou estrangeiros. A inveja, a arrogância de pensarmos que somos donos da verdade, a incompreensão, a falta de respeito e a resolução mais cil para o problema; o extermínio.
E escolhi-a também, porque acredito que a começar de novo, devemos começar por tentar resolver o que continua errado. E não, não estou a falar “ ai e tal, agora vamos mudar o mundo”, não, eu estou a falar de mudar “em mim”,” em si” e em todos nós, mesmo que seja só um pouquinho para melhor, talvez não agora, talvez não na geração seguinte, mas um dia, quem sabe possa fazer a diferença. ZD.
 
Fontes:
Foto:http://www.pnqueluz.imc-ip.pt/pt-PT/jardins/ContentDetail.aspx?id=16

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