O que é a Mishná?
A Mishná, também conhecida como Mixná ou Mixa *1 (em
hebraico משנה,
"repetição", do verbo שנה, ''shanah, "estudar e revisar") é uma das
principais obras do judaísmo rabínico, e a primeira grande redação na forma
escrita da tradição oral judaica, chamada a Torá Oral. Provém de um debate
entre os anos 70 e 200 da Era Comum por um grupo de sábios rabínicos conhecidos
como 'Tanaim' e redigida por volta do ano 200 pelo Rabino Judá HaNasi.
Traditional
burial place of Judah the Prince,
at Beit She'arim National Park, Israel.
A razão da sua transcrição deveu-se, de acordo com o
Talmude, à perseguição dos judeus às mãos dos romanos e que à passagem do tempo
trouxeram a possibilidade que os detalhes das tradições orais fossem
esquecidos. As tradições orais que são objecto da Mishná datam do tempo do
judaísmo farisaico*2. A Mishná não reclama ser o desenvolvimento de novas leis,
mas meramente a transcrição de tradições existentes.
A Mishná é considerada a primeira obra importante do judaísmo rabínico e é uma fonte central do pensamento judaico posterior. A lista dos dias de festa conhecida como Meguilat Taanit é mais antiga, mas de acordo com o Talmude já não está em vigor.
Um dos feriados da antiga Judeia: Yom
Nicanor - 13 de Adar
Os acontecimentos históricos que
cercam o feriado, Yom Nicanor, eram considerados como marcantes na nossa
história. Hoje, os 13 º de Adar no calendário hebraico, é Ta'anit Esther, o
Jejum de Ester, e assinalado como um dos "menores dias de jejum".
Comentários rabínicos à Mishná nos
três séculos seguintes à sua redação (guardados sobretudo em aramaico) foram redigidos,
como a Guemará.
Etimologia
O plural de tana que se refere aos sábios rabínicos judeus
cujas opiniões são gravadas na Mishná. Na história judaica, o período dos
'Tanaim' é também referido como período mishnaico. Seguiu-se ao período dos
Zugot ("pares") e foi precedido pelo período dos Amoraim. A raiz tana
(תנא) é o equivalente aramaico para
a raíz hebraica shaná (שנה) que é também a palavra raiz de "Mishná". O verbo shaná (שנה) significa literalmente
"repetir [aquilo que se ensinou]" e é usado para indicar
"aprender".
Estrutura
A Mishná está ordenada em seis ordens (em hebraico sedarim,
plural de seder, סדר), cada uma contendo 7 a 12 tratados (masechtot, plural de masechet, מסכת, "rede"). Existem 63
tratados no total. Cada masechet é dividida em capítulos (perakim, plural de
perek) e depois em parágrafos e versículos (mishnaiot, plural de mishná). A
Mishná é também chamada de Shás, uma abreviatura de Shishá Sedarim – as
"seis ordens"). O termo Shas é usado também para se referir a um
Talmude completo, o qual segue a estrutura da Mishná.
A Mishná ordena o seu conteúdo por assuntos temáticos, em
vez de contexto bíblico e discute temas individuais mais profundamente que o
Midrash. Inclui uma seleção mais alargada de assuntos haláquicos (da Lei
Judaica) do que o Midrash.
An
illuminated manuscript of the Mishna, part of the Palatina Library's De Rossi
collection,
dated to the 11th century. (Courtesy: National Library of Israel)
As seis ordens são:
Zeraim ("Sementes"), discute sobre rezas e bênçãos, dízimos e leis
agrícolas (11 tratados).
Moed ("Festival"),
referente às leis do Shabat e das Festas Judaicas (12 tratados).
Nashim ("Mulheres"), acerca do casamento e divórcio, algumas formas de
juramentos e as leis do nazir (7 tratados).
Nezikin ("Danos"), ocupa-se da lei civil e criminal, o funcionamento
dos tribunais e juramentos (10 tratados).
Kodashim ("Coisas Sagradas"), acerca dos rituais de sacrifícios, as
actividades do Templo e as leis alimentares (11 tratados).
Tahorot ("Purezas"), relativo às leis de pureza e impureza, incluindo a
impureza do morto, as leis da pureza ritual dos sacerdotes ('Cohanim'), as leis
da "pureza familiar" (as leis menstruais) e outras (12 tratados).
Em cada ordem (com a excepção de Zeraim), os tratados estão
organizados do maior (em número de capítulos) para o menor.
Jewish
cemetery in the time of the Mishnah and the Talmud
O Talmude Babilónico (no tratado Hagigá 14a) declara que
havia seiscentas ou setecentas ordens da Mishná. Hillel, o Velho organizou-as
em seis ordens para torná-la mais fácil de memorizar. Porém, é disputado o
rigor histórico desta tradição. Existe também a tradição de que Ezra, o
escriba, ditou de memória não apenas os 24 livros do Tanakh mas também 60
livros esotéricos. Não é absolutamente certo que isto seja uma referência à
Mishná, mas existirá razão para o dizer, já que a Mishná é composta realmente
por 60 livros. (O total actual é de 63, mas Makkot era originalmente parte de
Sanhedrin, e Baba Kamma, Baba Metzia e Baba Batra podem ser vistos como
subdivisões de um único tratado, Nezikin.)
A palavra 'Mishná' pode também indicar um único parágrafo
ou verso do próprio trabalho, ou seja, a mais pequena unidade da estrutura da
Mishná.
Curiosamente, o rabino Reuvein Margolies defendeu que
existiam originalmente sete ordens da Mishná.3 Ele cita uma tradição dos
Gueonim (os maiores sábios judeus da Babilónia) sobre a existência de uma
sétima ordem. A ordem em falta continha as leis de Sta'm (prática dos escribas)
e Berachot ("bênçãos").
Por agora vou terminar este artigo, mas vou tentar durante
esta semana colocar aqui mais em pormenor, cada uma das ordens. Mas quero alertar-vos para o facto de que este, à imagem da
maior parte dos meus artigos, não tem qualquer supervisão rabínica, pelo que
podem existir alguns erros sobre alguns factos, ou datas. Por este motivo
aconselho a todos que retirem qualquer dúvida com o vosso rabino. Eu farei o
mesmo! J
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