Devarim
Os Relatos de Moisés
O Livro de Devarim abre com Moisés
relatando alguns dos principais episódios da história judaica. Quase
imediatamente, encontramo-nos absorvidos na releitura da história em torno da
nomeação de juízes, originalmente lida na Parsha de Jetro.
A narrativa parece muito familiar,
contudo há uma omissão gritante: Jetro. É Jetro, o sogro de Moisés, que é o
primeiro a sugerir a ideia de passarem a existir vários níveis de juízes e
jurisdições.
Moisés e Jetro
Por que é que Jetro não é
mencionado aqui na nossa Parsha?
Antes de lidar com esta questão, Dom
Abarbanel resume esta secção da Parsha com cinco elementos distintos cruciais
para o funcionamento de um sistema judicial, elementos recolhidos das palavras
dos versos.
1 "Ouve entre teus
irmãos."
(Devarim 1:16)
O primeiro passo é ouvir e não ignorar
os apelos à justiça. Toda a gente merece ser ouvida.
2 "Julga com justiça entre
um homem e seu irmão."
(Devarim 1:16)
Os juízes são treinados para procurar
soluções. Na verdade, em muitos casos, o compromisso é visto como vantajoso
comparativamente com decisões puramente judiciais.
No entanto, diz Dom Abarbanel, a Torá
quer deixar claro o respeito necessário para com as posses de cada um. Uma vez
que um juiz tenha ouvido os detalhes do litígio, (e tenha visto os méritos de
certos argumentos), ele já não pode simplesmente empurrar para uma solução de
compromisso.
Embora os litigantes possam ser
"irmãos" e possam ser todos uma parte de uma grande família, o que
cada pessoa tem de seu merece a maior consideração.
3 "Você não deve reconhecer
um rosto."
(Devarim 1:17)
Muitas vezes traduzida como "Não
mostrareis favoritismo." A mensagem do versículo é claro. A menor
inclinação para um dos lados, mesmo que possa parecer insignificante, pode ser
equiparada a uma corrupção descarada.
4 "O pequeno e o grande
ouvireis igualmente."
(Devarim 1:17)
Ao ouvir os argumentos, o juiz deve
garantir que apenas presta atenção aos pontos de vista e argumentos da pessoa e
não à sua estatura. A actividade judicial, não é uma
plataforma para os sentimentos do juiz de compaixão ou similares.
5. "Você não deve tremer
diante de qualquer homem, porque o juízo é de D'us."
(Devarim 1:17)
A qualidade mais importante de todas, é
a condição moral do juiz e a sua total confiança em D'us. Temendo nenhum
mortal, mas só D’us, é a única maneira para que a justiça seja implementada.
Depois de listar essas cinco ideias, Dom
Abarbanel continua. Moisés agora afirma, se tiverem uma pergunta, não hesitem em
fazê-la. "Qualquer questão que seja difícil demais... Tragam-na para
mim."
Embora se possa pensar que o estatuto de
Moisés seria assim reforçado, respondendo constantemente a perguntas de juízes
grandes e distintos, Moisés dissipa essa ideia também.
"Eu ordeno
(ordenarei) a vós, nesse momento, todas as coisas que devem fazer"
(Devarim 1:18)
A intenção de
Moisés era não ter juízes em corrupio indo e vindo à sua tenda, mas sim
garantir que esses juízes se tornassem líderes eles próprios.
Então, por que é Jetro não
mencionado em tudo isso?
Explica Dom Abarbanel que, na realidade,
esta estrutura judicial estava destinada a ser ensinada ao povo judeu numa data
futura.
Mediação e consulta estratégica
tornar-se-iam necessidades constantes, ainda mais do que já o eram, agora que o
povo judeu estava pronto para entrar em Israel.
No entanto, quando Jetro chegou, e deu
esta sugestão antes da altura planeada, ele foi elogiado publicamente pela sua
"grande ideia".
Com esta explicação de Dom Abarbanel, talvez haja aqui outra
mensagem para nós:
Dando crédito a outra pessoa, fazendo
outra pessoa sentir-se necessária e útil, é a melhor maneira de promover a
união e boa vontade dentro de nossas famílias e comunidades.
Shabat Shalom!
Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com
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