sábado, 17 de agosto de 2013

Al-Andalus



Idade de Ouro da cultura judaica 
em Al-Andalus

No reino d'Al Andaluz


Al-Andalus


A Idade de Ouro da cultura judaica no Al-Andalus refere um período da história durante o qual uma parte importante da península Ibérica esteve sob governo muçulmano e reinou uma tolerância geral para a sociedade judaica, o qual favoreceu o florescimento da sua cultura, religião e economia.
A natureza e a duração desta "Idade de Ouro" é objecto de debate. Segundo alguns estudiosos, o seu começo poderia situar-se:


Entre 711— 718, após a conquista dos omíadas.
Em 912, sob o governo de Abd-al-Rahman III.
Para o seu final, as datas propostas são:
1031, com o final do Califado de Córdova.
1066, data do massacre de judeus em Granada.
1090, com a conquista almorávida.
Meados do século XII, com a invasão almóada.


Imagem de um cantor lendo o Pessach no Al-Andalus, iluminura
de uma Hagadá de Barcelona no século XIV.


O tratamento outorgado aos não muçulmanos durante o Califado de Córdova foi objeto de debate, especialmente o fato de existir uma época de coexistência pacífica entre muçulmanos e não muçulmanos. Foi argumentado que os judeus (e outras minorias religiosas) viveram uma época de tolerância, respeito e harmonia sob o governo muçulmano que não aconteceu no restante da Europa ocidental cristã, o que ocasionaria esta "Idade de Ouro".

Apesar do Al-Andalus ter tido uma importância chave para a sociedade judaica durante a Alta Idade Média, gerando importantes figuras e uma das comunidades judaicas mais ricas e estáveis, não há acordo entre os académicos a respeito de se esta convivência entre judeus e muçulmanos era realmente uma convivência real inter-religiosa, ou se, no fundo, o tratamento que receberam foi similar ao dado em outros lugares durante a mesma época.


Nascimento da Idade de Ouro

Os reis visigodos Chindasvinto, Recesvinto e Égica 
segundo o Codex Vigilanus.


Em 589, os Visigodos cristãos da Hispânia efetuaram uma severa perseguição contra os judeus; consequentemente, no século VIII, os judeus receberam os conquistadores árabe-muçulmanos com os braços abertos, e, sobretudo, os Berberes. As cidades conquistadas, como Córdova, Málaga, Granada, Sevilha, e Toledo foram brevemente submetidas e postas sob domínio dos seus habitantes judeus, que foram armados pelos invasores mouros.

Após a vitória, os invasores retiraram todas as restrições visigodas e garantiram a liberdade religiosa, em troca do pagamento de um dinar de ouro por cabeça (gízia).


Povo de Toledo


Começou assim um período de tolerância para os judeus, cujo número incrementar-se-ia consideravelmente devido à imigração procedente da África. Especialmente após 912, durante o reinado de Abd-al-Rahman III e o seu filho, Al-Hakam II, os judeus prosperaram, dedicando-se ao serviço do Califado de Córdova, ao estudo das ciências, e ao comércio e à indústria. A expansão económica dos judeus foi muito importante.


Abd-al-Rahman III


Abd-al-Rahman II


Em Toledo, participaram na tradução de textos árabes para as línguas romances, bem como do grego e do hebraico para o árabe. Os judeus contribuíram para a botânica, a geografia, a medicina, as matemáticas, a poesia e a filosofia.

O ministro e físico da Corte de Abd al-Rahman III foi Hasdai ben Isaac ibn Shaprut, o patrão de Menahem ben Saruq, Dunash ben Labrat, e outros eruditos e poetas judeus. O pensamento judeu floresceu com figuras como Samuel Ha-Nagid, Moses ibn Ezra, Salomão ibn Gabirol, Judah Halevi e Maimônides. Durante o reinado de Abderramão III, o erudito Moses ben Enoch foi designado rabi de Córdova, e, como consequência, Al-Andalus converteu-se no centro do estudo do Talmude, e Córdova no ponto de encontro dos sábios judeus.


A corte do califa Abd ar-Rahman III


Durante um tempo, os judeus gozaram de uma autonomia parcial como dhimmidas, graças ao pagamento da gízia, a qual era administrada separadamente do zakat, o qual era pago por muçulmanos. A gízia foi considerada um pagamento por não emprestar o serviço militar, como um tributo, etc. Os judeus tinham o seu próprio sistema legal e os seus serviços sociais. As religiões monoteístas agrupadas sob o nome de Povos do Livro, eram toleradas, porém era evitada qualquer manifestação multitudinária ou que pudesse chamar a atenção, como as procissões de fé ou os sinos.


Fim da Idade de Ouro


Com a morte de al-Hakan II Ibn Abd-al-Rahman em 976, o Califado começa a dissolver-se, e a situação dos judeus tornou-se mais precária sob o governo dos reinos de taifas. A primeira perseguição importante foi o massacre de Granada em 1066, a crucifixão do vizir Joseph ibn Naghrela e o massacre da maior parte da população judaica da cidade. "Mais de 1500 famílias judaicas, ou seja, ao redor de 4 000 pessoas, faleceram num dia." Esta foi a primeira perseguição dos judeus da península sob o governo islâmico.

Em princípios de 1090 a situação piora com a invasão dos Almorávidas, uma seita puritana procedente de Marrocos. Sob o seu governo, alguns judeus prosperaram (sobretudo sob Ali ibn Yusuf, mais que com seu pai Yusuf ibn Tasufin ). Entre aqueles que ostentaram o título de vizir ou "nasi" à época dos Almorávidas, encontrava-se o poeta e físico Abu Ayyub Salomão ibn al-Mu'allam, Abraão ibn Meir ibn Kamnial, Abu Isaac ibn Muhajar, e Salomão ibn Farusal (embora este último fosse assassinado a 2 de maio de 1108). 


A invasão dos Almorávidas


Os Almorávidas foram expulsos da península em 1148, mas o seu lugar seria ocupado pelos almóadas, que eram até mesmo mais puritanos. Sob o seu governo, muitos judeus foram obrigados a aceitar o Islão; os conquistadores usurparam as suas propriedades e as suas famílias, que seriam vendidos como escravos. A maioria das instituições educacionais judaicas foram fechadas e as sinagogas destruídas.




Durante o reinado destas dinastias berberes, muitos judeus, e, até mesmo, alguns eruditos muçulmanos abandonaram o Al-Andalus e emigraram para Toledo, a qual fora reconquistada em 1085 por forças cristãs.







Vários eruditos judeus participaram na chamada Escola de tradutores de Toledo, que traduziu, pela primeira vez para o latim, os trabalhos de árabes tão notáveis quanto Averróis, ou do poeta e filósofo judeu Salomão Ibn Gabirol, conhecido como Avicebron. Quase 40 000 destes emigrados unir-se-iam às filas de Afonso VI de Castela na sua luta contra os Almorávidas, os quais também contavam com judeus entre as suas tropas.



Herança árabe e judaica na Península Ibérica


Até mesmo após esta "Idade de Ouro" terminar, a comunidade judaica da península Ibérica, conhecida como comunidade sefardita, continuou sendo a comunidade judaica mais importante do mundo (especialmente com o declínio da Academia de Babilónia, no Iraque). Eruditos como Maimónides, nascido em 1135, foram figuras fundamentais no judaísmo. A presença judaica na Península continuaria até a expulsão forçada decretada pelos cristãos no Decreto de Alhambra, em 1492, e, pela Inquisição portuguesa em 1497.

Decreto de Alhambra, 31 de Março de 1492.


Fontes:








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