segunda-feira, 23 de julho de 2012

A destruição do Templo de Jerusalém.





A DESTRUIÇÃO DO PRIMEIRO TEMPLO E O CATIVEIRO DA BABILÓNIA


A destruição do Templo de Jerusalém, 1867, Francesco Hayez



    O Primeiro Templo, construído no reinado de Salomão, era o local mais importante do antigo judaísmo. Foi destruído em 586 a. e. c., quando os babilónios comandados pelo rei Nabucodonosor II saquearam e incendiaram Jerusalém. O Segundo Templo foi construído no mesmo sítio do Primeiro Templo e completado em 516 a. e. c. Infelizmente, o Segundo Templo também foi destruído, desta vez durante o cerco romano a Jerusalém, em 70 da e. c. A destruição de ambos os Templos teve lugar na mesma data – o nono dia do mês hebraico de Av – com 656 anos de intervalo. Estes dois acontecimentos tiveram um impacto de tal forma trágico na vida do povo judeu, que os antigos rabinos declararam a destruição dos Templos um Dia de Luto. Esta é a origem de Tisha B’Av – o Nono de Av -, que este ano coincide com o dia 29 de Julho do calendário comum.
     Vamos aqui evocar esta data, dedicando especial atenção à destruição do Primeiro Templo e ao Cativeiro da Babilónia. Vamos fazê-lo através da poesia, da pintura e da música, porque a obra de arte é a experiência da beleza que nos ajuda a olhar dentro do pensamento, alma adentro, suavizando a dor que às vezes nos consome. A obra de arte, em última instância, pode conduzir-nos à transcendência, aproximando-nos de Deus.


O Lamento de Jeremias, 1630, Rembrandt von Rijn


     Sentado na base de uma larga coluna, o Profeta Jeremias, com o braço esquerdo apoiado numa Bíblia, lamenta a destruição de Jerusalém, um acontecimento que ele próprio tinha profetizado, mas que foi impotente para evitar. Zedequias, o último rei de Judá, é feito prisioneiro e cego, sendo conduzido nesse triste estado ao exílio da Babilónia. Rembrandt pintou o Profeta com uma admirável precisão, inundando-o de luz, uma luz que contrasta com a escuridão envolvente. Ao fundo, no lado esquerdo, podemos ver as chamas que assolam Jerusalém e o rei Zedequias apoiando a cabeça entre as mãos.




A Fuga dos Prisioneiros, 1896-1902, James Tissot



     O Salmo 137, cuja autoria as fontes rabínicas atribuem ao Profeta Jeremias, é recitado em Tisha B’Av. O salmo canta o exílio do povo judeu na Babilónia, depois da destruição do Primeiro Templo. Descreve também a dor dos exilados por terem sido afastados de Jerusalém e a sua incapacidade de manter em terra estrangeira as expressões de alegria que só em Sião faziam sentido.



Junto aos rios da Babilónia, James Tissot

Salmo 137
(1 a 6)

Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar,
recordando-nos de Sião.
Nos salgueiros das margens
pendurámos as nossa harpas.
Os que nos levaram para ali cativos,
pediram-nos um cântico;
e os nossos opressores, uma canção de alegria:
- «Cantai-nos uma canção de Sião.»
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor,
estando numa terra estranha.
Se de ti me esquecer, ó Jerusalém,
que mirre a minha mão direita,
que a minha língua se quebre,
se de ti me não lembrar,
se não preferir Jerusalém
à minha maior alegria.


Luís Vaz de Camões (1524-1580)



     Camões, inspirado neste salmo, escreveu as formosas redondilhas “Babel e Sião”, que são, como se sabe, uma paráfrase ao Salmo 137. Começam assim:

BABEL E SIÃO
Sôbolos rios que vão
Por Babilónia me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
De meus olhos foi manado,
E, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
(…)


Giuseppe Verdi (1813-1901)

     “Va pensiero, sull’ali dorate”, também conhecido por o Coro dos Escravos Hebreus, faz parte do terceiro ato da ópera Nabucco (1842) do compositor italiano Giuseppe Verdi. O texto, da autoria de Temistocle Solera, é inspirado no Salmo 137.
     Para terminar este pequeno artigo, propomos a audição do Coro dos Escravos Hebreus, um dos trechos mais populares de Verdi, numa interpretação do Metropolitan Opera House, sob a direção do maestro James Levine.


Este artigo foi elaborado na totalidade pela minha amiga
 Sónia Craveiro,
A quem agradeço com carinho o excelente trabalho.
Muito obrigada
Um grande Beijinho




Fontes:
Bíblia Hebraica – Livro dos Salmos





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