A Música judaica constitui uma
herança cultural com quase 5800 anos e tem vindo a transformar-se
constantemente. Das raízes comuns vindas dos rios Eufrates e Tigre, Médio
Oriente, os judeus são encontrados na América do Norte, Central e Sul, Europa, Ásia,
Austrália, Nova Zelândia e África, com populações que variam de algumas
centenas a milhões.
Neste vídeo pode ouvir um dos primeiros instrumentos a ser utilizado: O Shofar.
Levando em consideração essa
difusão global, seria possível dizer que há uma música que possa ser chamada de
música judaica? O que determina uma música judaica? Seus instrumentos, seus
elementos musicais, o “quão judeu” é o autor, a mensagem do contexto? O que tem
a ver a música dos judeus da Etiópia, com a dos Sefarditas (judeus da Península
Ibérica), e a dos iemenitas (Yémen), ou os judeus de Cochim, na Índia, e a dos
judeus de Israel, assim como a música dos judeus das Américas, judeus ortodoxos
e judeus da Reforma que representam o mundo contemporâneo judeu.
Em primeiro lugar, poderíamos
considerar que há uma herança bíblica que
se configura como o principal cerne da tradição judaica e que é preservada na
sua importância e uso, sempre e em qualquer lugar do mundo. Em segundo lugar, a
filiação
espiritual-humanística
ligada ao seu país de origem. A Torah, as Haftarot, as fontes do Talmude,
funcionam como elemento de coesão entre os diferentes judeus e representam o
pensamento judeus, tanto esteticamente como eticamente. Também na música,
faz todo o sentido dizer que os judeus são o Povo do Livro.
Origens e Tendências actuais
A maior contribuição
musical dos antigos hebreus foi a elevação do
status da música litúrgica
junto aos rituais cerimoniais. O que se sabe sobre a música
tocada no tempo de Salomão e o seu segundo Templo
reconstruído, depois do exílio da
Babilónia,
sob o reino de Darius, o Rei da Pérsia 516 a.e.c é um indicativo do alto nível de
organização musical litúrgica
No Templo de Salomão existiam
24 grupos corais formados por 288 músicos
utilizados nos 21 serviços semanais. Actualmente as principais tendências da música
judaica são a da tradição
Sefardita e o estilo Klezmer, além das músicas do
cerimonial litúrgico. As restantes, como por
exemplo, os judeus Portugueses e Africanos ainda aguardam pesquisa e
levantamento sistemático de material.
Os Sefarditas
Os Sefarditas são judeus que
viveram na Península Ibérica até ao fim do Séc. XV. Quase toda a cultura tem
uma forte influência dos mouros, pois estes invadiram e dominaram a Península
Ibérica durante cerca de 700 anos. Depois da expulsão de 1492, muitos judeus sefarditas
foram viver para a Palestina, Egipto, Síria, Balcãs e nas Américas, espalhando
um dos reportórios mais vastos da cultura judaica. No século XIX, muitos desses
judeus sefarditas migraram para a América do Sul.
A Música
sefardita possui três géneros poéticos musicas principais: romanças, as coplas
e as líricas.
Eles se diferenciam pela temática, por sua estrutura
poética musical, pela sua execução e a
sua função
social. As canções sefarditas têm categorias e
funções
relacionadas aos grandes ciclos: O ciclo da vida (nascimento, casamento e
morte) e o ciclo anual (correspondente às festas do calendário
judaico). Os sefarditas falam ladino, que é uma língua
que mistura o hebraico com o espanhol de Castela. Há vários
grupos e cantoras de música sefardita espalhados pelo
mundo que se dedicam a preservar e até a recriar o cancioneiro sefardita
A música Klezmer e os Ashkenazim
Os ashkenazim são os judeus que
viviam na Rhineland (Renânia, ou região do Rio Reno) – actual Alemanha e no
nordeste da França, no Séc. IX e que migraram para a Europa Central e para o
Leste depois das perseguições das Cruzadas. Alguns foram também para a Grécia e
Turquia. Muitos formaram colónias grandes na Rússia e na Polónia. Falam Yiddish
que é uma mistura do hebraico antigo com as línguas germânica e eslavas.
A música Klezmer tem origem no
Leste Europeu, Europa Central, passando pelos Balcãs até ao Mar Negro e cruza
oceanos e continentes até chegar ao novo mundo, isto é, a América. Ela nasceu
nas vilas judaicas da Europa central (“shtetels”) e espalhou-se pelo resto da
Europa, adquirindo as características da música romena, polaca, ucraniana e húngara,
e tinha por objectivo principal acompanhar as festas e cerimónias, como os
casamentos, os barmitzvot, os jogos de Purim, etc.
Até à Primeira Guerra Mundial,
as bandas Klezmer são caracterizadas pela predominância do violino e do címbalo,
(espécie de piano ambulante). Com o crescimento do teatro Yiddish e do
aparecimentos do gramofone, os instrumentos de cordas foram substituídos pelos
de sopro. O violino foi substituído pelo clarinete e o contrabaixo pela tuba,
assim como o címbalo cedeu o seu espaço ao xilofone, piano ou banjo. O
florescimento da cultura yiddish na Europa foi brutalmente interrompido pelo
Holocausto e foi na América e em Israel que a tradição do Klezmer conseguiu
sobreviver, acabando por se transformar numa característica do quotidiano nas
comunidades da Diáspora.
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