Anne Frank Boom
A árvore de Anne Frank (castanheiro visto do sótão)
«Vou todas as manhãs ao sótão (…) onde respiro ar fresco. Do meu lugar favorito no chão vejo um pedaço de céu azul e o castanheiro sem folhas, em cujos ramos cintilam gotinhas, e vejo as gaivotas que, no seu voo planado, parecem de prata. (…) Enquanto me é dado ver e viver tamanha beleza, não devo estar triste». (Diário, 23 de Fevereiro de 1944)
A árvore de Anne Frank (em holandês Anne Frank boom) é um Castanheiro-da-Índia de que Anne fala no seu famoso Diário, escrito entre de 12 de Junho de 1942 (data em que completa treze anos) e 1 de Agosto de 1944.
Anne Frank com os pais e a irmã em 1941
As raízes da família de Anne Frank remontam à Judengasse (Judiaria) de Frankfurt. Em 1933, a família, fugindo às perseguições nazis, refugia-se na Holanda, mais precisamente em Amesterdão. Invadida a Holanda pelos alemães, as perseguições aos judeus manifestam-se com uma tal violência que os Frank decidem passar à clandestinidade. Durante dois anos, de 1942 a 1944, os Frank vivem no Anexo, separados do mundo. Sob a ameaça constante de serem descobertos pela polícia, não podem sair à rua.
«Vim para o anexo quando tinha treze anos e, por isso, fui obrigada a reflectir mais cedo sobre o Mundo e a fazer a descoberta de mim mesma como de um ser humano que deseja ser independente.»
Para Anne, de temperamento alegre e comunicativo, o isolamento e o medo sentido diariamente, fizeram com que amadurecesse prematuramente. Apesar das dificuldades vividas, esta criança de uma inteligência e de um espírito de observação invulgares, aprecia a vida e consegue experimentar momentos de felicidade.
«…Quando lá fora se ouve o chilrear dos pássaros, quando se vêem as árvores a pintarem-se de verde, quando o Sol nos chama e o ar é todo ele azul, oh!, então os meus desejos são infinitos». (Diário, 14 de Abril de 1944)
Da esquerda para a direita, os amigos dos clandestinos do Anexo: Miep Gies, Johannes Kleiman (Otto Frank), Victor Kugler e Bep Voskuijl
Os ocupantes do Anexo estão totalmente dependentes dos amigos que, com risco da própria vida, os socorrem. Estes trabalham todos no escritório da antiga empresa de Otto Frank, sendo os seus colaboradores mais próximos. Almoçam muitas vezes com os moradores do Anexo e é nessas ocasiões que discutem os problemas materiais dos clandestinos. Mas também abordam a situação política e os negócios de Otto Frank.
«Muitos amigos e conhecidos partiram para um destino terrível. Noite após noite, os carros verdes ou cinzentos do exército passam, batem às portas e perguntam se há judeus em casa. Se houver, toda a família é obrigada a segui-los imediatamente, se não houver, prosseguem caminho. (…) Ninguém escapa a este destino excepto se se esconder. (…) Ninguém é poupado: velhos, crianças bebés, grávidas, doentes, todos são conduzidos nesta viagem para a morte.» (Diário, 19 de Novembro de 1942)
Memorial do Campo de Bergen-Belsen
No dia 4 de Agosto de 1944 a “Grüne Polizei” assaltou o Anexo e prendeu todos os seus habitantes. Posteriormente foram deportados para o campo de concentração de Westerbrok, na Holanda, e depois transferidos para Auschwitz, na Alta Silésia, nos princípios de Novembro de 1944. Edith Frank, a mãe, viria a morrer em Auschwitz, em Janeiro de 1945. Anne e a irmã seriam mais tarde deslocadas para o campo de Bergen-Belsen, no norte da Alemanha, onde viriam a morrer, em Março de 1945. Otto Frank, o pai, foi o único sobrevivente da família.
Vítima de uma época de injustiças e violência, em que a amplitude da chacina de seres humanos por seres humanos não tem equivalente, Anne Frank tornou-se um símbolo. O seu Diário, traduzido em 67 línguas e que já vendeu 31 milhões de exemplares, ergue-se como uma voz contra os seus assassinos. A velha árvore com mais de 150 anos, que ela admirava a partir do sótão do Anexo, seria derrubada por uma tempestade que assolou Amsterdão em 2010. Todavia, do que restou dela nasceram vários rebentos, que por sua vez deram origem a várias árvores, entretanto plantadas pelo mundo fora.
Marco de Canaveses, Janeiro de 2011
Em 28 de Janeiro de 2011, na inauguração da exposição sobre Anne Frank em Marco de Canaveses, teve lugar a plantação de um rebento do castanheiro de que Anne fala no seu Diário. A árvore é um memorial para homenagear todas as crianças que, como Anne Frank, morrem vítimas de perseguição.
Hanna Pick no Yad Vashem, Março de 2012
Na imagem acima podemos ver Hanna Pick (uma sobrevivente do Holocausto e amiga de Anne Frank), regando uma pequena árvore, igualmente um rebento do castanheiro de que Anne fala no seu Diário. A cerimónia teve lugar em 26 de Março de 2012, no Memorial das Crianças do Yad Vashem, em Jerusalém.
Nos Estados Unidos, The Anne Frank Center USA é responsável pela distribuição e plantação de rebentos da “Árvore de Anne Frank” a várias instituições. No dia 30 de Abril do corrente ano, terá lugar em Washington, num dos relvados do Capitol, mais uma cerimónia de plantação de uma “Árvore de Anne Frank”.
Em 4 de Abril de 1944, Anne escreveu: «Quero continuar a viver depois da minha morte». Cumpriu-se o seu desejo. Anne Frank vive e continuará a viver por muito tempo.
Ao longo da história os judeus têm enfrentado muito sofrimento, sem, no entanto, se definirem por ele. Ao transmitirmos as nossas memórias às gerações mais novas, procuramos aprender com o passado, mas projectando sempre uma enorme esperança no futuro. Para os judeus a vida é uma dádiva e por isso deve ser celebrada. Assim, parece-nos apropriado terminar este artigo com música. Propomos a audição do Concerto em Dó maior para piano e orquestra de Haydn. O solista é Yoav Levanon (então com 8 anos de idade), acompanhado pela Orquestra de Câmara Franz Liszt, dirigida por Janos Rolla, num concerto que teve lugar em Agosto de 2012, na Sinagoga Dohány, em Budapeste, durante o Festival Judaico de Verão.
Yoav Levanon (8) Plays Haydn Concerto in Dohány Synagogue, Budapest
Este foi mais um
magnifico presente da,
Sónia Craveiro
Muito obrigada
Beijinhos
Fontes:
“Diário de Anne
Frank” (tradução de Ilse Losa), Edição «Livros do Brasil» Lisboa;
“Anne Frank – uma
vida”, Fundação Anne Frank/Campo das Letras