DIÁRIO DAS CORTES
GERAES E EXTRAORDINARIAS DA NAÇÃO PORTUGUEZA.
NUM. 47
SESSÃO DO DIA 31
DE MARÇO DE 1821
(O documento é
reproduzido com a grafia da época)
Decreto
As Cortes Geraes, Extraordinarias, e Constituintes
da Nação Portugueza, Considerando que a existencia do Tribunal da Inquisição he
incompativel com os principios adoptados nas Bases da Constituição, Decretão o
seguinte:
1.° O Concelho Geral ao Santo Officio, as
Inquisições, os Juisos do Fisco, e todas as suas dependencias, ficão abolidos
no Reyno de Portugal. O conhecimento dos Processos pendentes, e que de futuro
se formarem sobre causas espirituaes, e meramente ecclesiasticas, he restituido
á Juriadicção Episcopal. O de outras quaesquer causas de que conhecião o
referido Tribunal, e Inquisições, fica pertencendo aos Ministros Seculares,
como o de outros crimes ordinarios, para serem decididos na conformidade das
Leys existentes.
2.° Todos os Regimentos, Leys, e Ordens
relativas á existencia do referido Tribunal, e Inquisições, ficão revogadas, e
de nenhum effeito.
3.° Os bens, e rendimentos, que
pertencião aos dictos estabelecimentos, de qualquer natureza que sejão, e por
qualquer titulo que fossem adquiridos, sejão provisoriamente administrados pelo
Thesouro Nacional, assim como os outras rendimentos publicos.
4.º Todos os Livros, e tudo Manuscriptos,
Processos findos e tudo o mais que existir nos Cartorios do mencionado
Tribunal, e Inquisções, serão remettidos á Bibliotheca Publica de Lisboa, para
serem conservados em cautela na Repartição dos Manuscriptos, e inventariados.
5.° Por outro Decreto, é depois de
tomadas as necessarias informações, serão designados os ordenados que ficarão
percebendo os Empregados que servirão no dicto Tribunal, e Inquisições.
A Regencia do Reyno assim o lenha entendido, e faça
executar. Paço das Cortes 31 de Março de 1821. –Hermano José Braancamp do
Sobral, Presidente – Agostinho José Freire, Deputado
Secretario – João Baptista Felgueiras, Deputado Secretario.
Em 13 de Nissan de 2408 (1703 a.e.c.), D’us apareceu a Avram
e mudou o seu nome para Avraham, (pai de uma multidão de nações) e ordenou-lhe
que circuncidasse a si mesmo e a todos os membros de sua família e todos os
futuros descendentes, com a idade de oito dias dizendo:
“Para que o meu pacto (berit) esteja em sua carne, como uma
eterna aliança.”
Avraham tinha 99 anos na ocasião, e o seu filho Ishmael,
treze. Yitschac, que nasceu um ano depois, foi o primeiro judeu a ser
circuncisado aos oito dias de vida.
D'us dá-nos sempre uma segunda oportunidade de sermos
melhores, cabe a nós a decisão de a aceitarmos ou não! ZD
Adoece o Rei Hezekia (548 a.e.c.)
Rei Hezekia, (Ezequias), é rei de Judá
Neste dia, o Rei Hezekia, o mais notável de todos os reis da
Judeia, ficou gravemente enfermo, e foi informado pelo Profeta Yeshayahu que
morreria, pois Dús estava descontente com o facto dele nunca se ter casado. Ele
recusou-se a casar porque tinha previsto profeticamente que os seus filhos
levariam o povo judeu a pecar. Ele errou, pois cabe ao homem cumprir o
mandamento de procriar, e o resto fica nas mãos de D’us.
Hezekia pediu ao Profeta para rezar por ele, mas este
recusou-se, insistindo que o decreto era definitivo. O rei pediu ao Profeta
para sair, dizendo que ele tinha uma tradição de seus ancestrais, de que uma
pessoa jamais se deveria desesperar, mesmo que uma espada afiada estivesse na
sua garganta. O Rei rezou a D’us e sua prece foi aceite. D’us enviou Yeshayahu
para lhe comunicar que ele iria recuperar e que a sua vida seria prolongada por
mais quinze anos. Hezekia, recuperou três dias depois, precisamente no primeiro
dia de Pessach. Mas tarde o Rei desposou a filha do Profeta Yeshayahu.
O banquete que durou 180 dias realizado pelo Rei
Achashverosh acabou neste dia.
Achasverosh errou em seus cálculos sobre a data
inicial profetizada por Yirmiyahu sobre a promessa da reconstrução do Templo
Sagrado que se realizaria após 70 anos de exílio do povo judeu na Babilónia.
Quando a data expirou, segundo seus cálculos, e os judeus não foram redimidos,
ele divulgou que daria um grande banquete para celebrar a extinção dos judeus
“Povo escolhido”. Durante os dias destas celebrações ele exibiu diversos adornos
e utensílios que foram espoliados roubados do Templo Sagrado de Jerusalém pelo
exército babilónico.
Dois dias antes da conclusão do período de luto de 30
dias após o falecimento de Moshê em 7 de Adar, Yehoshua despachou dois
batedores – Caleb e Pinchas – ao outro lado do Rio Jordão para fazer o serviço
de inteligência e preparar a batalha dos israelitas com a primeira cidade na
conquista da Terra Santa. Em Jericó, eles foram ajudados e escondidos por
Rahab, uma mulher que vivia dentro dos muros da cidade. (Rahab mais tarde
casou-se com Yehoshua).
Elias, o Profeta, 1927, Fritz Kredel (Haggadah Offenbach)
Este artigo, que é apenas um
pequeno apontamento sobre Elias, abre com uma ilustração que representa Elias,
o Profeta (Eliyahu ha Navi) na sua qualidade de mediador de paz. Refere-se à
passagem de Malaquias 3: 23-24 – “Eis que vos
mandarei o profeta Elias, antes que venha o grande e temível dia do Eterno. E ele
fará volver o coração dos pais (para o Eterno) através dos filhos, e o coração
dos filhos (para o Eterno) através dos pais, para que Eu não venha a desferir
sobre esta terra uma destruição completa.”
O
profeta Elias anuncia a chegada do Messias, Haggadah
de Veneza, 1609
Habitualmente a Haggadah descreve o profeta Elias soprando o shofar, enquanto conduz o Messias a Jerusalém. Na tradição judaica,
Eliyahu é conciliador e mensageiro de boas notícias, como a chegada do Messias
(Mashiach ben David) - “Aproximam-se
os dias – diz o Eterno – em que escolherei, de entre os rebentos de David, um
justo que governará como rei, que prosperará e saberá praticar a justiça e a
rectidão na terra.” (Jeremias 23:5).
O nome Eliyahu é composto pela palavra אלי (Eli, “meu D’us”), sendo as restantes letras יהו, o nome de D’us. No texto sagrado Elias é apresentado como um “Homem de
D’us”, recipiente de uma graça divina e dotado de poderes sobrenaturais, que realiza
milagres em várias ocasiões; alguns em lugares públicos, outros em ambientes
privados. Acima de tudo, Elias é um paradigma do mais puro zelo pela fé judaica.
Elias ocupa igualmente um lugar importante no Cristianismo e no
Islamismo.
Elijah meeting
Ahab and Jezebel in Naboth’s vineyard, 1876, Sir Francis Bernard Diksee
Elias, o Tesbita, de acordo com o “Livro
dos Reis” (Sefer Melachim – I Reis e
II Reis), foi um profeta da Terra de Israel (estava esta dividida em dois
reinos – o do norte – o reino de Israel, e o do sul – o Reino de Judá), que
viveu no século IX a. e. c., no reinado de Acab e da sua esposa fenícia, a rainha
Jezabel. Jezabel, determinada em erradicar o culto ao Senhor e em fazer da
adoração ao deus Baal a religião nacional de Israel, teve influência em Acab
que, evidenciando fraqueza de carácter, mergulhou o seu reino numa crise
espiritual profunda. Foi neste contexto que Elias e o seu discípulo Eliseu,
defenderam ousadamente a fé no D’us único.
Elias, convicto de que nenhum deus pagão
era superior ao D’us de Israel e dispondo apenas da oração e da fé em D’us como
armas para enfrentar o rei Acab e os 450 profetas de Baal, lutou corajosamente
para que os israelitas reconhecessem a sua apostasia e assim fossem
reconduzidos à fidelidade ao D’us de Israel. Já no Monte Carmelo podemos ouvir
o profeta:
«E
Elias dirigiu-se a todo o povo e disse: «Até quando ficareis saltitando entre
dois pensamentos? Se o Eterno é D’us, segui-O! Mas se é Baal, segui-o! – e o
povo não lhe respondeu nada. Então Elias disse ao povo: «Cá estou eu sozinho
como profeta do Eterno frente aos 450 profetas de Baal.»
I
Reis 18: 21-22
Elias e os profetas de Baal, 1545, Lucas Cranach, o Jovem
Numa atmosfera de grande
densidade dramática, Elias dirige uma prece a D’us, dizendo: «Ó Eterno, D’us de Abraão, de Isaac e de
Israel! Hoje será reconhecido que Tu és D’us e que eu sou Teu servo e que fiz
todas estas coisas conforme a Tua palavra. Responde-me, ó Eterno, responde-me,
para que este povo reconheça que só Tu, ó Eterno, és D’us, e assim Tu farás
voltar o seu coração desgovernado.»
I
Reis 18: 36-37
É precisamente este, o texto de uma das Árias mais famosas da Oratória
“Elijah, Op.70”, de Félix Mendelssohn, que o compositor alemão escreveu para o
Festival de Birmingham, Inglaterra, em 1846. Propomos a sua audição, na voz do
barítono Dietrich Fischer-Dieskau, no papel de Elias.
No.14: Aria (bass) ELIJAH: Lord God of
Abraham, Isaac and Israel, this day let it be known that Thou art God and I am
Thy servant. Lord God of Abraham, oh show to all this people that I have done
these things according to Thy word, oh hear me, Lord, and answer me. Lord God
of Abraham, Isaac and Israel, oh hear me and answer me, and show this people
that Thou art Lord God and let their hearts again be turned.
O episódio do Monte Carmelo
termina com o reconhecimento público do nome de D’us e a matança de todos os
sacerdotes de Baal, o que motiva a sanha vingativa de Jezabel. Elias é forçado
a fugir para o reino de Judá, para salvar a sua vida. Mas após ter caminhado um
dia no deserto, sem comida, nem bebida, cansado e fraco, senta-se à sombra de
uma árvore e, desmoralizado, pede a morte. É então visitado por um anjo, que o
conforta e lhe sacia a sede e a fome.
Mendelssohn utiliza neste episódio os três
primeiros versículos do Salmo 121, produzindo um coral memorável (a cappella), que ficará conhecido por
“Coro dos Anjos”. Vamos ouvi-lo, numa interpretação do coro de rapazes do
King’s College de Cambridge.
Salmo
121: 1-3 - Um Cântico de Ascensão. Ergo
meus olhos para o alto de onde virá meu auxílio. Meu socorro vem do Eterno, o
Criador dos céus e da terra. Ele não permitirá que resvale teu pé, pois jamais
se omite Aquele que te guarda.
No.28: Chorus ANGELS: Lift thine eyes to the mountains, whence cometh
help. Thy help cometh from the Lord, the Maker of heaven and esth. He hath said
thy foot shall not be moved; thy Keeper will never slumber.
O arrebatamento de Elias, Guiseppe Angeli (1712-1798)
“E
sucedeu que indo eles andando e falando, um carro de fogo, com cavalos de fogo,
os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. E Eliseu viu e
exclamou: «Meu pai, meu pai! Ó carros de Israel e seus cavaleiros!» - e não o
viu mais.”
II
Reis 2:11-12
Conforme se pode ler no texto bíblico,
Eliyahu ha Navi ao deixar o mundo dos vivos, não desaparece como um comum
mortal, mas sobe aos Céus numa carruagem de fogo.
Na piedade judaica, o profeta arrebatado
ao Céu vive no Paraíso, com os anjos, onde lhe é atribuída a responsabilidade
de escrivão celestial, escrevendo os nomes dos justos e as suas boas acções no simbólico
“Livro da Vida” (Sefer ha Chaim).
Eliyahu não é uma personagem do passado: está vivo e acompanha o longo
peregrinar de Israel, protegendo os judeus em cada geração; desce à terra em
socorro dos necessitados, para nos lembrar que temos direito à esperança na
justiça.
Sobre Vitebsk, 1913-1914, Marc Chaggal
Na pintura de Chaggal – Sobre Vitebsk (a cidade natal do pintor)
-, a imagem de Eliyahu emerge na figura do Judeu Errante, passando por uma majestosa
igreja russa e por um edifício vedado e encerrado (aparentemente uma sinagoga).
O artista expressa desta maneira a vulnerabilidade da condição dos judeus ao
tempo da sua infância, que como ele estavam na iminência de se tornarem
refugiados.
Mas Eliyahu não nos visita apenas em
tempos conturbados; está igualmente presente nas celebrações, observando de
perto as relações dos filhos de Israel com D’us. De acordo com a tradição
judaica, Eliyahu é o guardião de todas as crianças judias e acredita-se que
está presente em cada ritual de circuncisão – Brit Milah -, testemunhando a entrada de uma nova alma na Aliança
entre D’us e o povo de Israel.
A taça de Elias, 1935, Arthur Szyk
No Seder de Pessach, é
tradição reservar uma taça de vinho para Elias, a Kós Eliyahu, e deixar a porta aberta, para que o espírito do
profeta possa entrar. De acordo com a lenda, Eliyahu retira uma gota de vinho
de cada Seder no mundo,
engarrafando-o de seguida, para depois o distribuir aos judeus pobres que não podem
comprá-lo para os seus próprios Sidarim.
Havdalah (detalhe), Haggadah Kaufamn, Catalunha, séc. XIV
“Eliyahu ha Navi” é o título de
um hino que se canta nas cerimónias de Brit
Milah, do Seder de Pessach, mas também em Havdalah (separação), a cerimónia que é
celebrada após o Shabat, para dar
início à nova semana.
Eliyahu ha Navi simboliza um traço de
união entre gerações de judeus, através dos tempos.
Eliyahu ha Navi, Eliyahu
haTishbi/Eliyahu, Eliyahu, Eliyahu haGiladi/Bim-hera v’yameinu/Yavo eleinu/im
Mashiach ben David, im Mashiach ben David.
Elias,
o Profeta, Elias, o Tesbita, Elias, Elias, Elias, O Guiladita/Virá e
anunciará, virá e nos trará/O Messias, filho de David, o Messias, filho de
David.
Este magnífico artigo foi-nos oferecido pela nossa amiga